Folha de S. Paulo


crítica

Apesar de atuações, 'Intocáveis' não oferece nada além do filme

Já que o tema é superação, se superarmos o blá-blá-blá da autoestima, até que sobram instantes prazerosos no roteiro de "Intocáveis", filme de Olivier Nakache e Éric Toledano adaptado para o palco, com direção de Iacov Hillel.

A peça sobre a amizade entre um homem tetraplégico e bilionário e o auxiliar de enfermagem que cuida dele, ex-detento negro, está em cartaz no Teatro Renaissance.

Mantém-se a premissa educativa (e comercial) da troca de conhecimento entre dois protagonistas, cujas qualidades e falhas são mais complementares do que conflitantes.

O auxiliar não tem erudição. O paciente é culto, mas vive cercado pelo tédio.

Lenise Pinheiro/Folhapress
Atores Ailton Graca, de camiseta vermelha, e Marcello Airoldi na peça 'Intocáveis'
Atores Ailton Graca, de camiseta vermelha, e Marcello Airoldi na peça 'Intocáveis'

Juntos, eles vão viver um momento de vitalidade e frescor. Fórmula conhecida, a comédia redime-nos do peso da vida e, de quebra, desloca aferições morais comuns, sobre a maconha (eles usam), pequenos crimes (o auxiliar comete), sobre piadas politicamente incorretas e a maneira de tratar deficientes.

A adaptação de Hillel se apoia em uma atuação exagerada de Aílton Graça, que procura trazer os traços de seu personagem para um estado anímico escancarado, às vezes aos berros –às vezes engraçado, é verdade. Marcello Airoldi está mais comedido e preciso, faz um tetraplégico cheio de dignidade.

As atuações salvam a montagem, mas é bem chato que se faça uma leitura no teatro tão similar à do filme, espécie de decalque, ainda que um pouco abrasileirado (leia-se debochado). Se escolhemos ver uma versão, é para ter um novo olhar.

Além de não apresentá-lo, a direção não nos oferece o básico, que seria uma cenografia decente. Opta por projeções em cortinas brancas.

A pobreza com que esse recurso é utilizado torna evidente: houve economia, mas não criatividade.

A cena em que o tetraplégico voa de parapente, momento marcante do filme, infelizmente também foi cortada. Afinal, como produzir tal façanha no teatro?

Essa é uma questão de típica da área, faz vibrar estalos capazes de tornar o palco tão potente. Cabe perguntar-se aqui, com alguma crueldade, se é melhor ver o filme e deixar a peça de lado. Com certeza será mais barato.

INTOCÁVEIS
QUANDO: SEX., ÀS 21H30; SÁB., 21H; DOM., 19H30; ATÉ 30/8
ONDE: HOTEL RENAISSANCE, AL. SANTOS, 2.233, TEL. (11) 3069-2286
QUANTO: DE R$ 80 A R$ 100
CLASSIFICAÇÃO: 12 ANOS


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