Folha de S. Paulo


Comédia de Shakespeare 'como público gosta' ganha versão crua

Reza a lenda que William Shakespeare, após receber críticas à densidade de suas peças históricas, decidiu fazer um espetáculo do jeito que o público gosta.

Assim teria nascido "As You Like It" ("como você gosta"), comédia da fase mais madura do dramaturgo, escrita no fim do século 16.

Verdade ou não, a história representa um pouco do espírito do bardo inglês, diz o diretor Vinicius Coimbra.

"O trabalho dele atingia tanto as pessoas mais populares quanto as mais sofisticadas", afirma o encenador.

Mais conhecido por seu trabalho na televisão –dirigiu as novelas "Insensato Coração" (2011) e "Lado a Lado" (2012)– Coimbra traduziu (junto a Gabriel Falcão), adaptou e dirigiu o texto, que ganhou o título "Como a Gente Gosta". Após uma temporada no Rio, o espetáculo chega a São Paulo nesta sexta (31).

Baseada no romance "Rosalinda" (1590), de Thomas Lodge, a comédia de Shakespeare é centrada em Rosalinda (Priscila Steinman), que se apaixona por Orlando (Gabriel Falcão). Mas, como é de praxe em contos românticos, o amor encontra obstáculos: Orlando foge ao saber que seu irmão tem a intenção de matá-lo.

Rosalinda é banida da corte –já que seu pai, o duque, foi deposto–, foge na companhia de uma prima e do bobo da corte (papel de Pedro Paulo Rangel) e assume uma identidade masculina, a de Sebastião. Com o disfarce, reencontra Orlando, mas ela não pode se revelar.

CENOURAS E REPOLHOS

Coimbra diz que buscou uma adaptação mais palatável para o público contemporâneo. Manteve a métrica de Shakespeare, mas deixou a linguagem menos rebuscada.

Também cortou cerca de 30% do texto original e incluiu novas cenas (algo como 15% da dramaturgia final), em especial para o papel do bobo da corte –segundo o diretor, com o intuito de ressaltar o caráter irônico do personagem. "Ele traz uma opinião bastante crítica", afirma.

"O bobo tem essa função em peças, de dizer as verdades para os poderosos sem correr muitos riscos", continua Rangel. "[O personagem] diz que bobo é aquele que se acha esperto e esperto é aquele que se acha bobo."

As alegorias continuam no cenário e no figurino minimalistas. São poucos elementos de cena, e os atores identificam seus personagens com alguns objetos e uma camiseta onde se lê o prenome de quem interpretam. As trocas de roupas são feitas atrás de um biombo ao fundo do palco.

Como o seu bobo, Rangel conta que o elenco, sem o apoio de uma grande cenografia, precisa confiar ainda mais na interpretação para cativar o público. "É o puro prazer da representação."

"Na época de Shakespeare, as pessoas ficavam lá no Globe [teatro da companhia do dramaturgo] comendo suas alfaces, suas cenouras, seus repolhos e, quando não gostavam da peça, atiravam as comidas nos atores. Então a peça tinha que ser muito boa. E é isso que a gente tenta fazer. "

COMO A GENTE GOSTA
QUANDO sex., às 21h30, sáb., às 21h, dom., às 19h; até 20/9
ONDE Teatro Nair Bello - shopping Frei Caneca, r. Frei Caneca, 569, tel. (11) 3472-2414
QUANTO R$ 60
CLASSIFICAÇÃO 14 anos


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