Folha de S. Paulo


crítica

Colagem de clássicos é apenas demonstração tola de cinefilia

Um letreiro à "Star Wars" introduz "Ato, Atalho e Vento", de Marcelo Masagão. Tomemos o início desse letreiro: "Esse filme é fruto do encontro de um livro e 143 filmes produzidos nos quatro cantos do planeta. O livro é o 'Mal-Estar na Civilização', escrito pelo fofo do Freud".

Após isso, imaginamos, o que vier é lucro. E o que vem é uma colagem pouco criteriosa de trechos de filmes diversos, de Méliès a Kieslowski, de Godard a Tom Tykwer, filmes de ontem e de hoje, que valem muito ou não valem um níquel. Uma espécie de "Histoire(s) du Cinéma" às avessas, porque não tem o gênio de Godard por trás.

Masagão revela, por exemplo, uma grande admiração pelo Fellini tardio. São vários os trechos de "E la Nave Va", obra-prima que o diretor italiano fez em 1983 como homenagem à ópera e ao cinema.

Divulgação
Catherine Deneuve em cena do filme 'Repulsa ao Sexo
Catherine Deneuve em cena do filme 'Repulsa ao Sexo'

Mas aqui a colagem de filmes amados não busca, até onde se pode entender, uma provocação ou uma relação mais profunda com o mundo, como em Godard ou Rogério Sganzerla (outro que brilhou no cinema de colagem).

O que vemos é apenas uma demonstração de cinefilia um tanto tola, com trechos e mais trechos se acumulando sem muito critério. E, quando é perceptível um critério, preferimos não percebê-lo, pois as associações são fáceis e óbvias.

Um exemplo é a série de professores de diversos filmes ensinando alunos a pronunciar o "th" da língua inglesa, ou as diversas atrizes olhando alguma coisa com certo espanto, ou ainda pessoas dormindo. Ou seja: é o tipo de montagem que existe aos montes no YouTube.

Daí a inutilidade completa que é o filme "Ato, Atalho e Vento".

ATO, ATALHO E VENTO
QUANDO: ESTREIA NESTA QUINTA (30)
PRODUÇÃO: BRASIL, 2015, 14 ANOS
DIREÇÃO: MARCELO MASAGÃO


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