Folha de S. Paulo


Mostra de cinema latino traz filmes andinos e caribenhos, antes preteridos

Há dez anos, para montar um festival de cinema latino-americano significativo, era preciso pouco mais do que reunir filmes da Argentina, do México e do Brasil, principais indústrias da região.

Filmes com uma paisagem andina ou caribenha, com sotaque guarani ou quéchua, em geral, precisavam receber um selo de qualidade de algum festival europeu para driblar a desconfiança de curadores e distribuidores.

Em sua décima edição (que tem início nesta quarta para convidados e amanhã, 30, para o público), o Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo rompe um padrão e apresenta 111 filmes de 17 países diferentes.

Divulgação
Cena do filme 'Las Insoladas', do argentino Gustavo Taretto
Cena do filme 'Las Insoladas', do argentino Gustavo Taretto

Entre as obras, diversas coproduções regionais, sem participação de tradicionais parceiros do cinema da região, como a Espanha.

"Aumentaram a produção e a qualidade das outras indústrias do continente. O uso de câmeras digitais colaborou muito, mas também ajudaram as novas parcerias, as coproduções e as novas leis de incentivo em outros países", diz à Folha João Batista de Andrade, diretor presidente da Fundação Memorial da América Latina e um dos curadores do evento.

Apesar do número recorde de produções, a edição deste ano sofreu impacto da crise econômica. "Nosso orçamento ideal seria de R$ 2,5 milhões, mas só captamos R$ 1,3 milhão [via leis de incentivo e patrocínio direto de empresas] e o resto conseguimos por meio de parcerias e permutas. Foi bem mais difícil neste ano", diz o também curador Francisco Cesar Filho.

O evento ainda se expandiu em número de espaços de exibição. De apenas três em sua primeira edição, passou a 11 salas neste ano. "Quando começamos o festival, não sabíamos se haveria público suficiente, agora temos certeza de que sim", diz Cesar Filho.

Em 2014, em nove salas, o evento recebeu 20 mil pessoas. Os ingressos são gratuitos.

COLÔMBIA

Uma das sensações recentes do circuito de festivais, a chamada "buena onda" colombiana está representada por seis produções.

O principal destaque vai para "Viva a Música", adaptação de romance homônimo de Andrés Caicedo, autor de culto na Colômbia, morto aos 25 anos, em 1977.

O filme acompanha uma jovem mulher de classe média em sua peregrinação pelo submundo de Cali, uma das cidades mais violentas do país até os anos 1980.

"Do ponto de vista político, há menos polarização do que na época dos cartéis da droga. Hoje há uma pluralidade de vozes. Isso tornou a produção mais complexa e mais rica", diz o diretor do filme, Carlos Moreno.

O novo embalo da cinematografia colombiana começou em 2004, quando "Maria Cheia de Graça" foi premiado no Festival de Berlim. Se até 2002 a Colômbia só havia feito 250 filmes, nos últimos 12 anos lançaram-se quase 200.

A coroação veio neste ano, com uma premiação em Cannes de "La Tierra y la Sombra", de César Acevedo.

A boa performance econômica do país na última década e a perspectiva de o governo alcançar um acordo com as guerrilhas colaboram para um otimismo geral, que hoje vai da seleção de futebol, sensação da última Copa do Mundo, ao cinema nacional.

O Chile comparece com "Mar", de Dominga Sotomayor, e o Peru, com "Sozinhos", de Joanna Lombardi, filha do principal cineasta do país, Francisco Lombardi.

Da América Central surgem, por exemplo, "Los Maes de la Esquina", documentário sobre adolescentes na Costa Rica, e "Miskitu", sobre uma população nativa da Nicarágua forçada a emigrar.

VEJA OS DESTAQUES DO 10º FESTIVAL DE CINEMA LATINO-AMERICANO DE SP

O ARDOR, de Pablo Fendrik (Arg/Bra/Fra/EUA)
Nesta espécie de faroeste ambientado entre Brasil e Argentina, Gael García Bernal e Alice Braga têm de enfrentar uma gangue de mercenários invasores de terras
> Sáb. (1º), 21h30, no CineSesc

NATUREZA MORTA, de Gabriel Grieco (Argentina)
Uma jornalista vai a uma cidade argentina investigar o sumiço de diversas pessoas ligadas à indústria do gado numa trama insólita
> Ter. (4), 19h20, no CineSesc

VIVA A MÚSICA, de Carlos Moreno (Colômbia/México)
Acompanha a história de Maria del Carmen, que deixa tudo para trás para se aventurar pelos ritmos da cidade de Cáli, na Colômbia
> Ter. (4), 21h30, no CineSesc

NÃO ESTÁVAMOS ALI PARA FAZER AMIGOS, de Miguel de Almeida e Luiz Cabral (Br.)
O documentário fala do jornalismo cultural da "Ilustrada" no período da ditadura militar brasileira
> Qui. (6), 19h, no Cinusp

DEBATE DE HOMENAGEM A LÍRIO FERREIRA
A obra do diretor de 'Baile Perfumado', 'Árido Movie' e 'Sangue Azul' será debatida pelo cineasta e de seus colegas de ofício Paulo Caldas, Kiko Goifman e Hilton Lacerda
> Qui. (30), 20h30, no
Memorial da América Latina

QUANDO de qui. (30) a qua. (5)
QUANTO grátis
LOCAIS E PROGRAMAÇÃO conferir no site do festival


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