Folha de S. Paulo


Desespero e tesão de Antoine D'Agata vêm a festival em Paraty

Depois de uma punhalada, muitos socos e um olho perdido, o fotógrafo francês Antoine D'Agata volta ao Brasil.

A punhalada ocorreu no México, há dois meses. O olho se foi aos 20 anos, quando brigou com a polícia e tomou três tiros. Já a saraivada de murros é a lembrança mais marcante de uma das três passagens por São Paulo, quando tentaram roubar sua câmera.

Maior festival de fotografia do país, o Paraty em Foco recebe D'Agata, 53, como destaque de sua 11ª edição, que será realizada entre 23 e 27/9.

O universo em desconstrução do francês, no qual registra a si mesmo com dois de seus amores –prostitutas e agulhas cheias de heroína–, será o gancho para discutir representação e autorrepresentação na fotografia atual.

Como em quadros de Francis Bacon (1909-1992), os corpos captados nas imagens de D'Agata aparecem em simbiose, todos retorcidos –misto de desespero e tesão.

"Vejo as selfies [publicadas em redes sociais] como uma maneira de trazer conforto. As pessoas tranquilizam seus medos e inquietudes com fotos que digam: 'Eu estive aqui com essa pessoa, e fizemos isso'", comenta ele.

"Mas o autorretrato é uma forma de confrontar. São perguntas, enquanto selfies são respostas. Esquecemos que fotografia é explorar e mudar a percepção sobre o mundo."

Percepção que ele controla por meio de períodos de privação e de imersão nas drogas.

Segundo D'Agata, cada vez que se vê dominado por elas, sem poder trabalhar, impõe a si mesmo um "detox". Da mesma forma, quando se vê demasiadamente lúcido, retorna à antiga rotina porque sabe que é preciso "se perder".

Este "jogo perigoso, cheio de riscos" está longe de ser divertido, mas o também membro da agência Magnum afirma que essa é uma maneira necessária para se manter vivo.

Após visitar prostíbulos na região da Luz, no centro de São Paulo, e pontos de venda de crack em Salvador –viagens registradas no fotolivro "Noiá"–, D'Agata vai a Paraty junto com o australiano Max Pam, o historiador espanhol Horácio Fernández e o finlandês Arno Rafael Minkkinen, entre muitos outros nomes.

Leia a íntegra da entrevista com Antoine D'Agata no blog Entretempos.


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