Folha de S. Paulo


'Acho a ocupação inaceitável, mas sou só visitante', diz Caetano em Israel

Um dia antes do show em Tel Aviv com a turnê internacional "Dois Amigos, Um Século de Música", Gilberto Gil e Caetano Veloso 72 foram recebidos nesta segunda-feira (27) pelo ex-presidente de Israel, Shimon Peres, e participaram de um encontro de ONGs israelenses e palestinas que trabalham em prol da paz entre os dois povos.

Caetano foi mais enfático em relação a sua posição quanto ao conflito, principalmente depois de ter visitado no domingo (26) o vilarejo de Susiya, na Cisjordânia, onde os moradores palestinos reclamaram das agruras da presença israelense na região.

"Eu vim para dizer abaixo a ocupação, abaixo a segregação!", afirmou Caetano diante de um público de ativistas no Hotel Dan, em Tel Aviv. "Estou muito emocionado, quase chorei ontem em Susiya [aldeia palestina que visitou na Cisjordânia]. É tudo muito difícil", completou.

O cantor afirmou, em seguida que suas palavras saíram "naturalmente": "Eu queria falar uma coisa mais clara. Acho inaceitável a ocupação, mas sou só um brasileiro, visitante, cantor. Esse é um problema dos israelenses".

A turnê causou polêmica assim que foi anunciada por causa da apresentação em Tel Aviv. Houve uma movimentação na internet de ativistas do movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções contra Israel), pedindo o cancelamento do show.

Roger Waters, ex-baixista e cantor do Pink Floyd, escreveu, em maio, uma carta aberta a Gil e Caetano pedindo aos colegas que cancelassem a apresentação, mas eles mantiveram o show.

Em entrevista coletiva no Centro Peres para A Paz, o ex-presidente israelense, Shimon Peres, afirmou que Gil e Caetano são "mensageiros da paz" ao trazerem a música brasileira para uma região tão conturbada. "Vocês fazem todo o mundo cantar. É uma grande honra. Vocês são anjos, mensageiros da paz."

Dos 18 shows na Europa e em 11 países (contando Israel) –além de mais dez apresentações na América Latina, a apresentação em Tel Aviv é a mais falada, apesar de Gil e Caetano já terem tocado em Israel antes. Assim como Gal Costa, Roberto Carlos, Maria Bethânia e Daniela Mercury.

"Estamos aqui para cantar e dividir nossas posições e preocupações. É claro que elementos da vida complexa que vive hoje essa parte do mundo são muito importantes, tocantes e muitas vezes muito perturbadores", disse Gilberto Gil.


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