Folha de S. Paulo


Semana na TV paga tem clássico com Omar Sharif; programe-se

SEGUNDA (13)

Teve sorte o herói Mad Max de seu novo filme, lançado neste ano, ter sido concebido e realizado pelo mesmo George Miller que bolou a série.

É verdade que as invenções visuais estão todas, mais ou menos, na primeira meia hora de filme.

Depois vem a pauleira, a perseguição habitual, temperada por alguns momentos fortes. Quem quiser ver ou rever o primeiro filme da série original tem à disposição, hoje, "Mad Max" (1979, Max Prime, 12 anos, 9h).

Divulgação
O ator Mel Gibson em cena do filme
O ator Mel Gibson em cena do filme "Mad Max" (1979), dirigido por George Miller

A primeira diferença a notar, claro, é que lá não é a água que está no centro das disputas, mas a gasolina. A segunda é que o Mad Max original, Mel Gibson, é bem mais carimástico que o novo, Tom Hardy.

No terceiro filme da série, já surge uma figura feminina forte, Tina Turner, como acontece agora com Charlize Theron. Em ambos os casos, o enredo é mais desenvolvido do que o novo.

TERÇA (14)

Quem vai ao Japão se espantará com o culto a Audrey Hepburn: é possível que lá ela seja mais admirada que na cidade em que nasceu. É dela e de "Bonequinha de Luxo" (TC Cult, 17h50), um belíssimo Blake Edwards, que pensei em falar hoje.

Mas há um outro belo ator que acaba de morrer, Omar Sharif. Ele começou sua carreira no Egito e foi escalado como um líder do deserto em "Lawrence da Arábia" (1962, TCM, 22h).

Columbia Pictures/Courtesy of Getty Images
Omar Sharif em cena do filme 'Lawrence da Arábia,' em 1962
Omar Sharif em cena do filme 'Lawrence da Arábia,' em 1962

O filme é mais uma dessas demonstrações do pouco apreço do britânico David Lean pelo império colonial inglês.O centro é T.E. Lawrence, o oficial britânico que termina por aderir e de certo modo organizar a guerrilha árabe contra o mandato inglês na região.

Não é essa, tanto, a questão do filme (é também). O centro é a personalidade de Lawrence, seu agir, seu encanto pelo lugar e pelas pessoas do lugar. Um filme antipreconceitos, marcando a passagem de Sharif ao cinema do Ocidente.

QUARTA (15)

Marco Dutra é um dos raros cineastas (é um dos diretores de "Trabalhar Cansa") capaz de aproximar a observação dos personagens ao respeito ao gênero que trabalha, no caso o horror.

"Quando Eu Era Vivo" (2014, TC Action, 19h55) começa com Junior batendo à porta do apartamento do pai. Ele volta à casa paterna após se separar da mulher, mas desde o primeiro contato percebemos a distância e as pendências entre pai e filho.

A aprofundar essa distância existe o fantasma da mãe, já morta, representado pelos objetos que Junior vai achando e que acentuam seu caráter depressivo. Em meio a isso fica a jovem inquilina da casa, Sandy.

Ela devia ser um motivo a mais de desequilíbrio na casa. Mas é um motivo de desequilíbrio do filme: parece que não se interessou pelo papel, cuidou mais da maquiagem que da interpretação. Pena porque Antonio Fagundes e Marat Descartes estão formidáveis.

QUINTA (16)

O que se chama habitualmente de crise da representação passa, em boa parte, pela descrença do espectador na pobre imitação de pessoas reais ou inventadas.

É um problema que "2 Filhos de Francisco" (2005, HBO, 18h45) tenta contornar recorrendo seja à "verdade biográfica" (trata-se de contar a história da dupla Zezé de Camargo e Luciano), seja à própria celebridade dos personagens.

Mas a plateia que fez do filme um best-seller entusiasmava, no cinema, muito mais com as canções do que com a história propriamente dita (não por acaso, o filme termina num show da dupla).

O estranho é que justamente a parte esquecida dessa história, a dos cantores mirins que ganham a vida a serviço de um empreendedor local de Brasília, é a mais interessante do filme. Depois entra aquela lenga-lenga de busca pelo sucesso, brigas em família etc. e tal que todo mundo conhece de sobra dos velhos musicais americanos.

SEXTA (17)

Entregar a câmera para outra pessoa registrar sua história pode ser uma falsa boa ideia. Foi a que teve Gabriel Mascaro ao imaginar "Doméstica" (2013, Max Up, 17h45). Um grupo de garotos encarregou-se de registrar as relações profissionais com as empregadas domésticas que trabalham para os pais.

Ok. Em princípio é democrático: a própria classe dominante mostrará, afinal, como se exerce essa dominação, e isso a partir de um grupo de pessoas (adolescentes) que nem mesmo se dão conta disso.

Resta que, se com uma mão o filme abre mão de seu poder ao cedê-lo aos jovens, com a outra o retira novamente. Ou seja: quem monta o filme é mesmo o seu autor. Com isso, jamais saberemos se o cineasta usou parte das imagens que iam ao encontro de seu ponto de vista. Isso pode ser um processo tão inconsciente quanto o de dominação de classe: cede-se a câmera, mas não o poder sobre as imagens.

SÁBADO (18)

Sim, fala-se muito, e não sem motivo, de uma crise da representação. Mas aí, de repente, aparece "Gravidade" (2013, HBO,0h). A história diz respeito a uma missão espacial simples, quase monótona, que de repente é abalada por detritos de um velho satélite.

Sobram vivos apenas o experiente astronauta George Clooney e a inexperiente Sandra Bullock, mas as condições de sobrevivência tornam-se cada mais delicadas.

O roteiro é bem levado: apoia-se pouco ou nada na psicologia e muito na ideia de aventura. Não precisa correr loucamente para nos implicar. Ao contrário: é com calma que se constrói a narrativa, e sem pressa que o filme vai nos levando ao espaço, a suas belezas e riscos.

É verdade, Alfonso Cuaron e seu genial fotógrafo, Emmanuel Lubezki (mexicanos, ambos) passaram anos a fio a explorar o espaço num estúdio até chegar a produzir a perfeita ilusão do espaço. Filme a saudar.


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