Folha de S. Paulo


Derrota para Alemanha tinha de ter acontecido, afirma Boris Fausto

"Você precisa de alguma coisa que coloque um ponto de interrogação em 'nunca mais'", disse Boris Fausto nesta quarta-feira (8) ao comentar como, após a morte da mulher com quem viveu 49 anos, Cynira, em 2010, passou a buscar a "possibilidade de uma transcendência".

O historiador participava de um debate com a editora-assistente da Três Estrelas, Rita Palmeira, o editor-adjunto de "Poder" Ricardo Mendonça e o repórter da "Ilustrada', Marco Rodrigo Almeida em evento promovido pela Folha na Livraria Cultura do Shopping Villa-Lobos, último de uma série de encontros organizada com autores após a Festa Literária de Paraty (Flip).

Fabio Braga/Folhapress
Sabatina *Folha* com o historiador Boris Fausto, 84, mediado por Marco Rodrigo Miranda, Rita Palmeira e Ricardo Mendonça (esq. a dir.)
Sabatina Folha com o historiador Boris Fausto, 84, mediado por Marco Rodrigo Miranda, Rita Palmeira e Ricardo Mendonça (esq. a dir.)

Boris comentou, além do luto que o inspirou a escrever o diário "O Brilho do Bronze", publicado no final de 2014 pela Cosac Naify, a morte da mãe, o diário de Getúlio Vargas e até o famigerado 7 a 1 da Alemanha sobre o Brasil na Copa, que completou um ano nesta quarta.

"Eu estava com absoluta raiva e fiquei olhando aquilo com um certo sadismo", contou ele, que é um fanático torcedor do Corinthians. "Não assisti aquilo com alegria, mas era algo que tinha que acontecer para por a nu toda a podridão do futebol."

Ele, que completa 85 anos em dezembro deste ano, disse que a primeira Copa da qual tem memórias é a de 1938, sediada na França e vencida pela Itália. Já a que mais o marcou foi a de 1958, quando o Brasil conquistou seu primeiro título. A Copa de 2010, na África do Sul, no entanto, veio acompanhada de tristeza: foi no meio dela que Cynira morreu.

"Naquelas últimas semanas, que foram difíceis, eu saía para dar uma volta e assistia pedaços de alguns jogos", contou. "Era a única coisa que me fazia abstrair, se o jogo fosse bom."

RETIRO

O historiador contou também sobre o período que passou em um retiro espiritual budista, retratado em seu "O Brilho do Bronze". Para ele, o que a experiência trouxe de positivo foi a capacidade de se "relacionar com pessoas totalmente diferentes". "Era uma tribo do planeta Marte para mim, as conversas, as afirmações," disse ele.

"Tinha muito publicitário, a gente podia fazer um estudo sobre isso. Jornalista acho que não tinha nenhum," brincou.


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