Folha de S. Paulo


crítica

Com personagens no estilo de 'Malhação', francês decepciona

A ideia ainda muito difundida que identifica o cinema francês a filmes de autor ou a temas engajados costuma ignorar a parcela de longas populares, feitos só para entreter, que a França, como todo o mundo, produz aos montes.

"Meu Verão na Provença" pertence a esse gênero e busca um público semelhante ao de "A Família Bélier", com pequenos conflitos familiares que podem ser superados pela força do amor.

Divulgação
Cena do filme:
Cena do filme: "Meu Verão na Provença"

O título também captura o imaginário turístico, no qual a Provença projeta os sonhos de uma região idílica, de uma natureza não remodelada para consumo, onde a autenticidade predomina também nos sabores e nos costumes.

Se em filmes americanos essa região do sudeste da França costuma ser tratada como destino romântico, local de suspensão da rotina e onde os sonhos podem se realizar, por que o cinema francês não teria o direito de explorar um clichê tão nacional?

É o que "Meu Verão na Provença" propõe, incluindo no pacote o conceito de filme de férias. Os dois adolescentes que, ao lado do irmão surdo-mudo, viajam com a avó estão provisoriamente afastados da crise que pôs seus pais à beira de uma separação. Ao chegarem ao destino encontram o avô ranzinza e têm de se adequar a um sujeito provinciano e antimoderno.

O filme concentra em parte esse aprendizado dos afetos, as dificuldades em decifrar as camadas que alguns criam para se proteger.

A diretora e roteirista Rose Bosch opta, porém, por uma representação chapada: personagens não passam de tipos, como num capítulo de "Malhação". Há o jovem garanhão, a garota sexy e sonhadora, o bonitão mau-caráter, maduros que já foram jovens, libertários e maconheiros e nenhuma espessura além desse catálogo de "atitudes".

A indigência dos diálogos e o humor rasteiro são outros motivos que podem levar ao arrependimento de quem se sentir atraído por este "made in France" pronto para consumo global.

MEU VERÃO NA PROVENÇA (Avis de mistral)
QUANDO: EM CARTAZ
ELENCO: JEAN RENO, ANNA GALIENA E CHLOÉ JOUANNET
PRODUÇÃO: FRANÇA, 2014, 16 ANOS
DIREÇÃO: ROSE BOSCH


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