Folha de S. Paulo


Brasileiro e russo tentam provar hoje que matemática é necessária e... sexy

Edward Frenkel e Artur Avila terão a missão de convencer a plateia da Flip –ou "aquele pessoal de humanas", como alguns colegas brincam– de que a matemática pode ser tão sexy quanto a "Pornopopéia" de Reinaldo Moraes.

Neste sábado (4), às 17h15, eles discutem a intimidade com números na mesa "Os Homens que Calculavam".

Professor na Universidade da Califórnia, o russo Frenkel, 47, já tirou a roupa pela causa. O curta "Rites of Love and Math" (ritos de amor e matemática), que codirigiu e estrelou em 2010, mostra a "verdadeira linguagem do amor": uma fórmula matemática tatuada no corpo de uma japonesa, com quem um Frenkel seminu se engraça.

"Você tem que sacudir o sistema", diz o autor do livro "Amor e Matemática - O Coração da Realidade Escondida" (Casa da Palavra, R$ 44,90, 368 págs.), bem cotado no bolão para galã da Flip.

Já o carioca Artur Avila, 36, pesquisador na França, foi o primeiro brasileiro a vencer a Medalha Fields, o Nobel da matemática.

Em 2005, resolveu um desafio envolvendo física quântica que ficou conhecido como "a conjectura dos dez martínis" –não porque o problema envolvesse a elaboração de drinques, mas porque, 25 anos antes, um físico prometera dez doses para quem o resolvesse. Avila não cobrou o prêmio: "Já tomei vários porres, mas nunca de martíni".

Zanone Fraissat/Folhapress
O matemático Artur Avila durante o segundo dia da Flip, em Paraty.
O matemático Artur Avila durante o segundo dia da Flip, em Paraty.

TEMPO

Os dois têm um ponto em comum: reclamam que a matemática ensinada em salas de aula parou no tempo.

O brasileiro diz que pensou numa "metáfora para a Flip" para ilustrar seu ponto de vista: "Quando você vai ensinar língua portuguesa, não para na gramática".

Para o russo, é o que ocorre com a matemática escolar, que estacionou em Euclides, o "pai da geometria". Já se vão 2.300 anos.

"Você tem a impressão de que nada aconteceu desde os triângulos", afirma Frenkel. "Mas a geometria pode ser mais divertida e realista."

Frenkel lembra que ignorar a matemática só é bom para quem não se importa em "ser manipulado pelos algoritmos de busca do Google".

Dá exemplos práticos de como essa ciência pode ter efeitos perversos no dia a dia. "A Amazon sempre recomenda livros, certo? E se uma editora pagar para que ela sugira seus produtos?"

Também lembra do "bug" que trava iPhones por meio de uma mensagem de texto. "E se descobrirem uma falha dessas nos carros automáticos?"

"Coisas assim já estão acontecendo, e ainda fingimos que matemática é sobre uma fórmula estúpida que nos fazem decorar no colégio", afirma.


Endereço da página:

Links no texto: