Folha de S. Paulo


Laudos indicam deterioração de obras asiáticas do Masp

Documentos apontam que obras da coleção de arte asiática do Masp sofreram deterioração desde que foram armazenadas numa reserva técnica provisória no subsolo do museu entre março de 2013 e fevereiro deste ano.

Esses laudos do museu, aos quais a Folha teve acesso, relatam encurvamentos e fissuras em pinturas do artista chinês Qi Baishi, um dos nomes mais valorizados do mundo e que já teve uma obra leiloada por R$ 202 milhões, além de detectar mofo, poeira e "craquelamento da laca" em vasos e imagens sacras.

Também sofrem com "pontos múltiplos de corrosão" as peças de bronze, como um Buda do século 16 que já teve um semelhante leiloado na Christie's por R$ 17 milhões.

Depois de constatar que o espaço onde estavam as obras "não era adequado", nas palavras de Adriano Pedrosa, diretor-artístico do Masp, o museu construiu uma nova sala –com um "upgrade significativo"– para abrigar as 2.325 obras do acervo doadas em comodato à instituição pelo diplomata Fausto Godoy há quatro anos.

Ex-embaixador do Brasil no Paquistão, Godoy, 70, integrou o serviço diplomático em 11 países da Ásia desde os anos 1980, tendo colecionado essas obras que decidiu doar ao Masp. Elas estavam em sua casa em Brasília até o início de 2013, quando foram trazidas a São Paulo.

Segundo a direção do Masp, os problemas identificados nas peças podem ter surgido não só na reserva técnica provisória onde estavam, mas também na residência de Godoy, que não tinha os mesmos cuidados de um museu.

Ele, no entanto, diz que as peças estavam em boas condições e que a proximidade delas com o ar-condicionado no subsolo do Masp provocaram a oxidação das obras de bronze e fissuras nas pinturas.

Esse é o mais novo capítulo de um impasse entre Godoy e o museu desde a mudança na direção do Masp em setembro do ano passado. O diplomata firmara um contrato com a antiga gestão que dava a ele o cargo de curador de sua coleção e garantia que ela fosse exposta num ponto privilegiado do museu, entre outras medidas.

Quando Heitor Martins assumiu a presidência do Masp, no entanto, o museu decidiu rever os termos do acordo, rejeitando a ideia de que um colecionador fosse curador.

"Ele tem proximidade com a coleção, mas é importante termos um olhar técnico", diz Pedrosa, que propôs ao diplomata que aceitasse a contratação de outros curadores para catalogar e estudar o acervo. "Uma nova direção artística deve ter independência."

Outro ponto de discórdia é o fato de Godoy ser remunerado pelo cargo e ter uma sala no museu, como prevê o contrato. "Vários termos já foram infringidos", diz Godoy. "Tenho todo o direito de tirar a coleção de lá, mas não estou fechado a negociações."

Mais de 200 outras obras, aliás, aguardam encaixotadas na garagem da casa de Godoy em São Paulo, esperando o fim do impasse com o Masp.

"É importante que essa coleção tenha visibilidade, não pela coleção, mas para que a Ásia entre no léxico dos frequentadores do museu", diz Godoy. "Tenho a impressão de que estão jogando fora uma oportunidade de ouro."

Enquanto a negociação se arrasta, o Masp reiterou que pretende exibir essa "coleção de grande interesse" e que gastou R$ 750 mil até agora com sua manutenção. Em fevereiro deste ano, quando teve o último contato com Godoy por meio de seu advogado, o museu propôs batizar o acervo com o nome do diplomata.

Uma mostra da coleção estava prevista para este ano, mas foi descartada por causa do atraso nas negociações.


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