Folha de S. Paulo


Mônica Bergamo fala dos bastidores da notícia na Casa Folha em Paraty

Qual o presidente mais fácil no trato e o mais duro na queda –FHC, Lula ou Dilma?

O que é mais difícil –cobrir petistas ou tucanos?

Que coluna social é esta, afinal, que fala mais do novo escândalo na política do que da grife do sapato da protagonista da novela nas nove?

A colunista da Folha Mônica Bergamo saciou as curiosidades de uma plateia cheia em debate na Casa Folha na Flip, na tarde desta quinta-feira (2) em Paraty.

Mediador do bate-papo, o editor-executivo do jornal, Sérgio Dávila, confessou: "Já vi você apurando notas até em festas na minha casa".

As notas de Bergamo já renderam furos (notícias dadas em primeira mão) como o câncer que Dilma Rousseff enfrentou em 2009 e o reconhecimento de um filho fora do casamento pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso –que depois descobriria não ser o pai de fato do rapaz.

Sobre qual era a gestão mais acessível, Bergamo não titubeou. "Era mais fácil cobrir o governo FHC", disse. "Cada ministro fazia meio que o que queria."

Deu como exemplo Francisco Dornelles, que comandou o Ministério do Trabalho entre 1999 e 2002. Ele pretendia mudar a CLT (o que nunca vingou) e avisou à jornalista: "Ó, isso vai ser uma bomba atômica. Deixa eu ir pra praia e você publica".

Àquela altura, nem Fernando Henrique sabia das intenções de seu ministro.

Já Dilma, afirmou Bergamo, "é mais centralizadora", por isso sua equipe tem mais melindres para passar informações à imprensa, com medo da bronca da chefe.

Lula, sobretudo em seu primeiro mandato, "era mais blindado". Mas o fato de seu governo ter vários figurões "de estofo" –de Márcio Thomaz Bastos (1935-2014) na Justiça a Cristovam Buarque na Educação– facilitou seu trabalho, diz.

Bergamo contou como decidiu publicar a história sobre o "filho secreto" de FHC.

"Os jornalistas conviveram com essa informações por anos", disse. A suposta mãe era colega de profissão: Miriam Dutra, profissional da Globo.

Ninguém, contudo, conseguia cravar o que até então era só fofoca. "Como vai publicar algo se não tem certeza?"

"Os anos passaram, FHC virou ex-presidente, viajou para a Europa e acabou-se o tabu", disse a colunista. Ele decidiu assumir a paternidade de Tomás em 2009, em um cartório em Madri, na Espanha –notícia que Bergamo revelou.

Ela também adiantou que, dois anos depois, um teste de DNA provou que o garoto não era de fato filho do tucano.

Para Bergamo, é uma lição importante –imagina se a imprensa tivesse divulgado o caso quando todos os rumores apontavam para um presidente que não assumia seu filho fora do casamento?

"Mesmo quando você tem aquela certeza absoluta pode estar errando. É com isso que o jornalismo tem de lidar dia a dia."

INTOLERÂNCIA

Dávila listou ápices da intolerância no país: as vaias ao ex-ministro Guido Mantega, a pichação "Jô Soares morra" após o apresentador entrevistar Dilma e a pedrada que atingiu uma menina de 11 anos que acabara de sair de um culto do candomblé.

Bergamo concordou que o Brasil está mais intolerante. Lembrou que José Dirceu, ainda réu do mensalão e já cassado no Congresso, foi convidado para uma apresentação de Wagner Tiso. A animosidade na plateia era latente, mas ninguém se manifestou. "Hoje seria uma sonora vaia."

Ela classificou atitudes assim como "covardes" e brincou que, se fosse exposta dessa forma nesta tarde, "não poderia dar uma microfonada" no agressor.

Também comentou os ataques sofridos por Jô Soares. Lembrou que "todos os opositores foram [em seu programa] falar mal do governo". Para ela, não se poderia esperar que Jô adotasse uma atitude hostil na entrevista com Dilma –não o fez com os antecessores Lula e FHC e não teria por que começar agora.

"É tradição dele ser gentil, amigável. Eu faria as dez piores perguntas possíveis, que é as que eu imagino que o leitor queira saber."

Ela mesma já virou vidraça na internet, após publicar que a mulher do então presidenciável José Serra (PSDB), professora acadêmica, contara a alunas que já havia feito aborto.

Na época, o tucano começou a levantar o tema do aborto na campanha para fragilizar a concorrente Dilma (PT), que no passado se dissera a favor e depois passou a adotar posição mais ambígua.

Mônica contou ter sido vítima de bullying virtual, com ataques inclusive ao seu pai.

MANDIOCA

Uma espectadora perguntou: "O que acontece com a Dilma, que fala o que a gente não entende?".

Na semana passada, a presidente fez a já célebre "saudação à mandioca" e inaugurou a categoria da "mulher sapiens".Também já deu declarações que viraram graça na internet, como a seguir: "Sempre que você olha uma criança, há sempre uma figura oculta, que é um cachorro atrás, o que é algo muito importante".

Para a colunista, o "mau humor" com a situação econômica faz com que seja mais recorrente pegar no pé da presidente.

Citou o cientista político Antonio Lavareda. Certa vez, ele lhe disse que todo mundo achava Lula um gênio em 2006, época em que a economia ia de vento em popa, e vários brasileiros se esbaldavam comprando enxoval em Miami.

"Se a economia vai para o buraco, Lula vira um retardado", palpitou Lavareda.

Com experiência de entrevistar uma presidente e dois ex-presidentes, Mônica Bergamo contou que uma de suas reportagens mais marcantes passou longe da política.

Quando tinha 20 e poucos anos, fez uma grande entrevista com o piloto Ayrton Senna (1960-1994) para a revista "Playboy".

A rixa entre Senna e Nelson Piquet era famosa na época. O último chegara a dizer que o colega "não gostava de mulher".

Senna acabou confessando a Mônica que fizera sexo com Katherine, a atual mulher de Piquet, antes de os dois se casarem. "Eu a conheci como mulher. É curto e grosso. Eu a conheci como mulher."

A repercussão foi avassaladora, e a colunista era uma jornalista em início de carreira que ficou "bem assustada" com tudo aquilo. Nunca esqueceu a manchete do jornal "Notícias Populares" sobre o caso: "Senna pilotou a máquina de Piquet".

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Confira a programação completa da Flip 2015.


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