Folha de S. Paulo


Eduardo Jardim cria retrato claro e organizado de Mário de Andrade

Em 1978, Eduardo Jardim publicou "A Brasilidade Modernista" (ed. Paz e Terra), fruto de uma dissertação de mestrado na Faculdade de Filosofia da PUC-RJ.

Foi o primeiro esforço intelectual do autor para ampliar o esclarecimento de algumas implicações culturais e filosóficas do modernismo brasileiro.

Jardim voltou ao tema em sua tese de doutorado e em outros ensaios, tendo sempre como referência a figura e a obra de Mário de Andrade –o modo, por exemplo, como o escritor paulista compreendeu o processo de modernização do qual foi um arauto; sua visão das relações entre o nacional e o internacional; e suas ideias acerca das interações entre cultura popular e erudita.

Como professor da PUC, Jardim propiciou a formação de uma linha diferente de estudos sobre modernismo no Rio, que veio a gerar jovens "discípulos", como Pedro Duarte, autor do livro "A Palavra Modernista" (Casa da Palavra, 2014).

Eu Sou Trezentos
Eduardo Jardim
livro
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O alvo de seu novo livro, "Eu Sou Trezentos", é um público mais amplo, que ultrapassa o leitor especializado ou ligado ao mundo acadêmico.

Trata-se de uma apresentação clara e organizada da vida e obra desse personagem que pelo menos por duas décadas –de 1917 a 1937– foi protagonista da vida cultural do país e é tido por muitos como o maior intelectual brasileiro do século 20.

Incansável (e apaixonado) "formulador do Brasil", Mário, como se sabe, permanece como matriz de toda uma vertente de estudos e de crítica cultural no país.

O livro apresenta em ordem cronológica a vida do autor de "Pauliceia Desvairada" conectada à produção intelectual e à militância pública em cada período –o que inclui, obviamente, a pioneira e histórica criação do Departamento Municipal de Cultura de São Paulo.

Especialistas possivelmente saberão de cor muitas passagens, mas, ainda assim, encontrarão interesse no livro –mais valioso, sem dúvida, para os que buscam uma visão geral e coerente da trajetória do modernista.

PERIODIZAÇÃO

Embora não seja uma obra teórica, Jardim apoia-se em suas teses, entre elas uma periodização do movimento, que até 1924 teria enfatizado a atualização da linguagem, passando, depois, a valorizar a questão da originalidade nacional.

A distinção, no entanto, parece um pouco esquemática num texto que não tem tempo para entrar nos meandros, por certo mais complexos, da história.

Sabe-se que a preocupação com o tema nacional entre os modernistas é anterior –e o texto de Oswald de Andrade (1890-1954) "Em Prol da Pintura Nacional", de 1915, é um exemplo disso.

Nada, porém, que retire os méritos do projeto e da realização de "Eu Sou Trezentos".

EU SOU TREZENTOS
AUTOR Eduardo Jardim
EDITORA Edições de Janeiro
QUANTO R$ 49,90 (256 págs.)
AVALIAÇÃO bom


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