Folha de S. Paulo


Pablo Escobar foi entregue pela família, diz filho em livro

"Quando soube que meu pai estava morto, fiquei com raiva e prometi me vingar. Dez minutos depois, mudei de ideia. Teria sido fácil e natural entrar para o crime e me transformar em herdeiro de Pablo Escobar [1949-93], mas preferi viver em paz", conta à Folha o arquiteto Juan Pablo Escobar, 37, filho do maior traficante de drogas de que se tem notícia na história.

Em "Pablo Escobar - Meu Pai", o primogênito traz revelações sobre a caça ao criminoso, promovida pelo Exército e a polícia da Colômbia, com apoio significativo de ex-colegas do crime e também de familiares.

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O traficante Pablo Escobar e o filho mais velho, Juan Pablo, em frente à Casa Branca, em Washington, nos EUA.
O traficante Pablo Escobar e o filho mais velho, Juan Pablo, em frente à Casa Branca, em Washington, nos EUA.

"Foi um choque tomar consciência de que, nos últimos anos de sua vida, meus parentes vinham colaborando com a equipe de busca montada para caçá-lo", relata ele. "Meu tio e minha avó, principalmente, pactuaram com o governo e com as forças de inteligência para entregá-lo. Depois, repartiram o que sobrou enquanto eu tive de me exilar."

CARTEL

No livro, Juan Pablo detalha como o líder narco, que havia começado como um pequeno contrabandista, transformou-se no chefe do cartel de Medellín, organização que atuou principalmente na Colômbia, nos países da América Central e nos EUA.

Responsável por sequestros, assassinatos, bombas em edifícios comerciais, redações de jornais e aviões, o cartel chegou a produzir e exportar mais de 80% da cocaína que circulava no mundo, faturando cerca de US$ 60 milhões por dia.

"Não justifico nem minimizo o que meu pai fez de errado. São atos condenáveis, mas defendo que se conheça a verdade, senão só vamos continuar reproduzindo a guerra."

Para ele, atribuir a Escobar toda a culpa da violência que tomou conta da Colômbia nos anos 1980 não é justo. "Os policiais também tinham ligação com os narcos. E muitos dos que continuam em postos de comando no país hoje foram cúmplices."

ESTADO AUSENTE

O autor ainda reconstrói o contexto da Medellín da época, no qual a ação do Estado não respondia às necessidades da população pobre. "Meu pai construiu casas e campos de futebol. As pessoas são agradecidas até hoje. Ele preencheu uma ausência do governo ali."

"Ele gera muitas paixões, negativas por parte dos familiares das vítimas, positivas por parte daqueles cuja vida melhorou. Ambas estão certas", afirma.

Em 2009, Juan Pablo contou pela primeira vez sua história em "Pecados de Mi Padre", documentário de Nicolas Entel. O filme acompanhou sua reaproximação com os filhos de políticos mortos por ordem do pai. Emocionado, o arquiteto aparece pedindo desculpas a todos.

Pablo Escobar:Meu Pai
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Vivendo hoje com o pseudônimo de Sebastián Marroquín, Juan Pablo construiu uma vida nova em Buenos Aires, onde moram sua mãe, viúva de Escobar, e a irmã caçula. "Minha vida nunca foi normal. Eu e minha irmã passamos a infância com brinquedos caros e de todo o tipo, em quantidades imensas, mas vivíamos escondidos."

O livro conta como Juan Pablo começou a perceber que seu pai não tinha uma profissão normal, além de enumerar as extravagâncias que a família vivia.

Na fazenda Nápoles, os Escobar tinham um zoológico, com animais trazidos de várias partes do mundo e uma coleção de arte com obras de Fernando Botero, Salvador Dalí e Auguste Rodin. Para o filho mais velho, o traficante dava carros de brinquedo trazidos da Europa e dos EUA.

LUXO

A família também viveu rodeada de luxo no período em que Escobar se entregou à Justiça, embora ele tenha escolhido como e onde ficaria preso –na imensa prisão de La Catedral, transformada em quartel general de sua rede criminosa.

"Ficamos trancados em casa com grande quantidade de dinheiro, mas sem poder sair para comprar comida, porque a casa estava cercada. Quando você passa por uma situação assim, entende que o dinheiro não vale nada."

O arquiteto se diz otimista com a Colômbia, mas considera que é preciso trazer a questão do narcotráfico para o centro da discussão política. "Por enquanto, o que vemos é o governo entretendo as pessoas com esse conto de que, acabando com os líderes dos cartéis, elimina-se o tráfico. Mentira. No dia seguinte à morte de meu pai não faltou um grama de cocaína no mercado."

Para ele, é preciso legalizar as drogas e acabar com o comércio ilegal. "Não adianta prender ou matar os líderes, no outro dia aparecem outros. O tráfico não acaba porque desaparece um chefão."

PABLO ESCOBAR - MEU PAI
AUTOR Juan Pablo Escobar
EDITORA Planeta
TRADUÇÃO Miguel del Castillo e Bruno Mattos
LANÇAMENTO nesta quarta (17), às 20h, no Itaú Cultural, av. Paulista, 149, tel. (11) 2168-1777; grátis (ingressos às 19h)
QUANTO R$ 49,90 (480 págs.)


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