Folha de S. Paulo


Casa de Rui Barbosa abrirá acesso a carta misteriosa de Mário de Andrade

A Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, decidiu abrir, nesta quinta-feira (18), acesso à única carta de Mário de Andrade para Manuel Bandeira que, presente em seu acervo desde 1978, ainda não tinha sido disponibilizada para o público.

A decisão foi tomada depois que a Controladoria Geral da União (CGU) deu um prazo de dez dias, a partir do último dia 9, para que a instituição revelasse o conteúdo da carta.

Reprodução
O escritor Mário de Andrade, em fotografia tirada na década de 1930, na porta de sua casa, na Barra Funda
O escritor Mário de Andrade, em fotografia tirada na década de 1930, na porta de sua casa, na Barra Funda

O pedido que deu origem à decisão da CGU foi feito via Lei de Acesso à Informação em fevereiro pelo jornalista Marcelo Bortoloti, da revista "Época".

A carta é uma das 15 cartas trocadas entre os escritores entre 1928 e 1935 que fazem parte do acervo de Bandeira na Casa de Rui. Ficava separada das outras, numa gaveta à parte.

Acredita-se que nela Mário de Andrade fale abertamente de sua homossexualidade —embora tenha dado pistas sem fim em outras cartas e em sua obra, como no caso do conto "Frederico Paciência".

Por duas décadas, a existência dessa carta foi comentada entre pesquisadores e na imprensa, mas nunca ficou claro o motivo pelo qual ela não fora aberta ao público.

"Tomei conhecimento dela há mais de 20 anos, mas nunca mais a vi. Parece que a família tem pedido para que continue reservada", diz Júlio Castañon Guimarães, pesquisador aposentado da Casa de Rui. Em entrevista à Folha, em janeiro, Carlos Augusto de Andrade Camargo, sobrinho de Mário, disse que o pedido partiu do próprio Bandeira.

NEGOCIAÇÃO

Ligada ao MinC, a Casa de Rui tem atividades ligadas à preservação e divulgação do legado de Rui Barbosa, mas também é responsável por outros acervos, como o de Manuel Bandeira.

Houve uma longa negociação até a decisão desta segunda-feira (15). Desde fevereiro, a Casa de Rui vinha relutando em abrir acesso à carta, com o argumento de que a família do modernista não autorizava.

A instituição temia que a abertura da carta contra a vontade dos herdeiros levasse futuros doadores a hesitarem a doar acervos privados com algum pedido de sigilo.

No último dia 9, após recurso da Casa de Rui, a CGU reafirmou decisão tomada em maio. Caso se recusasse a abrir o conteúdo, a Casa de Rui poderia responder por improbidade administrativa.

"Não encontramos nenhum fundamento para manter a carta fechada a pesquisa até 2015. Acho que foi um zelo, uma interpretação nossa que se tentou associar com a questão do domínio público [caso em que a carta seria liberada no ano seguinte aos 70 anos da morte do escritor, ou seja, em janeiro de 2016", disse Ricardo Calmon, diretor executivo da Casa de Rui.


Endereço da página: