Folha de S. Paulo


Semana tem clássicos do cinema na TV, de Tarantino a Hitchcock; programe-se

SEGUNDA-FEIRA (8)

Charlton Heston foi, em outros tempos, ninguém menos que um carismático Moisés. Depois foi Ben-Hur, El Cid, foi o senhor da guerra, Júlio César, Michelangelo e tantos outros, sem falar que graças a sua interferência Orson Welles pôde dirigir "A Marca da Maldade".

Quem mais indicado, portanto, para salvar a humanidade do que ele no filme sintomaticamente denominado "A Última Esperança da Terra" (1971, MaxPrime, 19h30)?

No roteiro desenvolvido a partir de um texto de Richard Mattheson, a humanidade é liquidada após uma devastadora guerra atômica. Restam alguns grupos de mutantes (e melhor seria que não tivessem sobrado) e ele, Charlton, que passa ileso por radiações e tudo mais.

Enquanto tenta escapar dos monstros, ele procura outros sobreviventes não mutantes. Boris Sagal dirige com brio sua trupe e o roteiro ainda bem atual: o fantasma do fim do homem é bem persistente.

TERÇA-FEIRA (9)

Em "O Jogo da Imitação", o matemática Alan Turing esclarece porque o homem aprecia a crueldade: porque dá prazer.

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Mel Gibson em cena de
Mel Gibson em cena de "Mad Max"

Quase sempre, o prazer é de quem pratica a violência. Mas o central em uma série de filmes, inclusive "Mad Max" (que agora retorna e com sorte: levado pelo mesmo George Miller que criou a saga), é que, por trás da capa de civilização, animalidade e violência é que conformam os atos do homem.

Na crise, some a etiqueta. Na série original, foi a gasolina que faltou. E, quando chegamos a "Mad Max 3 - Além da Cúpula do Trovão" (1985, HBO Plus, 12h20), Mel Gibson virou uma espécie de chofer de diligência que, após ser roubado no deserto e deixado ali para morrer, encontra a comunidade onde pontifica Tina Turner.

E, com o perdão de Mel Gibson, será essa mulher perversa que dominará a cena e a tornará memorável. Reina sobre um mundo cruel, mas é marcante.

QUARTA-FEIRA (10)

Se existe um filme em que é intrigante descobrir como Hitchcock vai fazer sua famosa aparição é "Um Barco e Nove Destinos" (1944, TC Cult, 22h).

Afinal, estamos no meio do oceano, num bote salva-vidas. Depois de um naufrágio, oito ocupantes de um bote salva-vidas recolhem um alemão do mar. Não é boa coisa: disfarçado que só ele, o alemão vai complicar a vida deles e prejudicar os Aliados tanto quanto possa.

Mas o nosso problema mesmo será descobrir como Hitchcock aparece: ninguém perde por esperar. Essa é uma de suas melhores aparições que fez, e das mais bem humoradas também.

Já que estamos em ritmo de Segunda Guerra, nada mais a propósito do que embarcar, também, em "A Conquista da Honra" (2006, Cinemax, 21h), o belo filme em que Clint Eastwood nos leva ao destino dos soldados que ficaram a bandeira americana em solo inimigo após a terrível batalha de Iwo Jima.

QUINTA-FEIRA (11)

Se for para examinar friamente, a trama de "Magia ao Luar" (2014, TC Premium, 16h25) não resiste muito. Ali, um grande prestigitador é chamado a desmascarar uma vidente que está fazendo sensação na Riviera Francesa.

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Emma Stone na comédia romântica
Emma Stone na comédia romântica "Magia ao Luar", de Woody Allen

O mágico é inglês e cético. É Colin Firth. Mas a moça parece, de fato, possuir dons extraordinários para coisas como prever o futuro e, sobretudo, arrecadar um bom dinheiro com eles. Ela é a americana Emma Stone. Estamos no registro clássico: opostos que se atraem. A graça está em ver como isso acontece.

"Leon Morin, o Padre" (1961, TV5 Monde, 20h30) não é o que se pode esperar de um filme de Jean-Pierre Melville. E, no entanto, é um belo filme. Ali, uma garota ateia confronta o padre Morin. O padre é Jean-Paul Belmondo e a época, a Segunda Guerra.

Como opção, no TC Cult, às 15h30, o grandioso faroeste "Rio Vermelho" (1948), um irretocável Howard Hawks.

SEXTA-FEIRA (12)

Assim como o primeiro filme da série, "Red - Aposentados e Perigosos 2" (2013, TC Pipoca, 23h55) parte da simpática premissa de ser um filme de ação produzido para velhos atores. A começar de Bruce Willys, o duro de matar.

Embora aposentado da CIA, ele é chamado de volta à ativa pelo amigo John Malkovich, uma espécie de cientista louco da tropa. A intriga importa pouco: para começar, existe a hipótese, já tão desenvolvida em outras partes, de armas nucleares soviéticas estarem soltas pelo mundo.

Ok. Mas por que eles? Aí entra a justificativa principal: tudo é paranoia no filme. Já não se sabem onde estão os inimigos e nem, com frequência, quem são eles. Essa é, a rigor, a base da trama: o mundo pós-URSS tornou-se, curiosamente, um lugar cheio de traições e traidores (a ver: a série "Bourne"). Podia ter sido filme melhor, mas é agradável e está longe de ser indigna.

SÁBADO (13)

"O Lobo de Wall Street" (2013, HBO, 22h) não destoa da produção habitual de Martin Scorsese. O assunto ele busca num personagem marginal, "um qualquer", um "Mané", como se diz, disposto a mais ou menos tudo para triunfar no mundo das finanças. Em Wall Street. O nome é Jordan Belfort.

Como em outros filmes de Scorsese, a violência é presente e acompanha o ritmo frenético, seja dos acontecimentos, seja da narrativa dos acontecimentos: é como se tudo fosse tocado a pó, como na vida dos personagens.

Mary Cybulski/Divulgação
Cinema: o ator Leonardo DiCaprio, em cena do filme
Cinema: o ator Leonardo DiCaprio, em cena do filme "O Lobo de Wall Street", de Martin Scorsese

Apenas que, aqui, a violência não consiste em trucidar outras pessoas com a morte: é, digamos, a violência do capital que é levada às últimas consequências.

O filme acentua, no entanto, algo que na maior parte das vezes permanece embutido nos filmes: o humor. O que se deve à construção da personagem (e à sua trajetória), mas também, muito, a Leonardo di Caprio, em sua melhor interpretação.

DOMINGO (14)

Quem passar algum tempo numa locadora vai se espantar com a quantidade de títulos que Quentin Tarantino patrocina: ora é "elogiado por...", ora "o preferido de...". E por aí vamos. Vale para policiais e kung fu. Vale para americanos, asiáticos, franceses.

Não se trata de má-fé. Tarantino é um cinéfilo e essa é a base de seus filmes. Talvez, desse americano que não sofre de angústia da influência, possa se dizer que seu grande predecessor é mesmo Brian de Palma.

De Palma foi quem desenvolveu a ideia de um cinema que já não tem sua origem no mundo, mas na própria imagem. É isso, afinal, que vemos em "Kill Bill Volumes 1 e 2" (2003 e 2004, respectivamente, TC Cult, 19h55 e 22h).

A Noiva (Uma Thurman), em sua empreitada de vingança, nos leva do faroeste ao extremo Leste, evocando todos os tipos de filmes de ação e aventura. A emoção é indireta, mediada pela imagem, mas o talento é direto.


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