Folha de S. Paulo


Grife Hermès expõe em São Paulo a sua manufatura de luxo

Em um sistema de produção pulverizado como o da moda, no qual o que vale para as marcas é a rapidez e o preço pago na execução de uma peça, são poucas as grifes que mantêm intactos o processo de manufatura de produtos. É o caso da Hermès.

A grife francesa, uma das mais tradicionais e caras do hemisfério Norte, iniciou em São Paulo na última sexta (29) o Festival des Métiers, mostra em que oito artesãos produzem ao vivo os acessórios mais importantes da etiqueta: lenços ("carrés"), relógios, joias, gravatas, itens de selaria, porcelanas e bolsas.

No Museu de Arte Brasileira da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado), foi montado uma estrutura com biombos que simulam os ateliês de confecção na França.

É claro que não é possível acompanhar o processo passo a passo, já que algumas peças chegaram ao país prontas para o encaixe, mas, pelo nível de cuidado com que são acabadas e manuseadas, o público poderá entender porque um "simples" lenço pode custar mais de R$ 2.000.

Na grife há mais de 15 anos, a artesã Frédérique Colomb, 43, passa até 700 horas decalcando e pintando à mão 39 camadas de desenho para um único protótipo de lenço de seda. Cada camada é "queimada" em telas de tinta para que, quando unidas, imprimam a imagem na base lisa.

Colomb diz que "a beleza do trabalho é a imperfeição, traçar um risco que visivelmente foi feito pela mão humana, e não por uma máquina".

A busca pela perfeição do trabalho manual é a maior herança da grife e o que a mantém no posto das cem marcas mais valiosas do mundo segundo a revista "Forbes", com valor de mercado estimado em mais de R$ 30 bilhões.

Fundada em 1837 pelo empresário do ramo de selaria Thierry Hermès (1801-1878), até hoje a empresa é controlada por herdeiros do criador e mantém uma produção exclusiva de itens para cavaleiros.

Uma sela simples produzida leva pelo menos 30 horas para ser confeccionada.

"A expertise em bater o martelo, achar a simetria perfeita entre as laterais da sela e unir à mão as camadas de couro curtido naturalmente com agulhas especiais é uma condição no nosso trabalho, nada é feito com máquinas", explica o artesão venezuelano Ricardo Velman, 33.

Claro que há um viés mercadológico na exposição, que, não por coincidência, começa exatamente na semana em que a Hermès inaugurou a expansão de sua loja no shopping Cidade Jardim, em São Paulo. Seria injusto, porém, afirmar que o caráter artístico da mostra é ofuscado.

Mesmo quem não gosta ou não se interessa por moda poderá, pelo menos, ter parte da resposta à pergunta que todo mundo faz quando vê cinco dígitos na etiqueta: "É bonito, mas por que custa tanto?".

FESTIVAL DES MÉTIERS
QUANDO ter. a sex., das 11h às 18h, sáb. e dom., das 11h às 17h; até 7/6
ONDE MAB-FAAP, r. Alagoas, 903, tel. (11) 3662-7198
QUANTO grátis


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