Folha de S. Paulo


Compositor do musical 'Bilac Vê Estrelas', Nei Lopes critica Broadway

"Lesa-pátria." É assim que Nei Lopes, compositor e letrista de "Bilac Vê Estrelas", descreve os musicais da Broadway que tomaram os palcos brasileiros na última década.

Nei, 73, carioca do Irajá, advogado pela Universidade do Brasil, hoje UFRJ, abandonou a profissão pela música -declarando-se "sambista por natureza e por opção".

Foi chamado pelo jornalista e escritor Ruy Castro, colunista da Folha, para criar as canções do musical baseado em seu romance "Bilac Vê Estrelas" (Companhia das Letras, 2000), adaptado por Heloisa Seixas e Julia Romeu.

A farsa narra os esforços do poeta Olavo Bilac (1865-1918) e do jornalista José do Patrocínio (1853-1905) para viabilizar um dirigível brasileiro, com apoio de Santos Dumont (1873-1932), projeto que uma espiã tenta furtar para os irmãos Wright, americanos.

Passado na "belle époque" carioca, a fase florescente do Rio entre o fim do século 19 e o começo do século 20, o espetáculo vem de temporada bem-sucedida na cidade, onde foi recebido como marco por se contrapor às fórmulas correntes do gênero.

Criado em conjunto com o compositor, que ajuda a narrar a história, é diferente das franquias da Broadway e biografias de ídolos musicais.

Nei também critica estas últimas: "Quando você põe música de sucesso midiático, perde a chance de revelar quão rica é a grande música brasileira, da qual esse universo pop não passa perto". Mas seu problema é com a Broadway mesmo : "O pior é ser incentivada por leis como a Rouanet, que teoricamente servem para apoiar criação brasileira".

Bilac Vê Estrelas
Ruy Castro
livro
Comprar

Ruy Castro é mais contido. Avalia que as franquias tiveram o seu papel, "ensinaram muita gente aqui a dançar e cantar". Foi uma "etapa válida", como as biografias.

Mas agora "o importante é o Brasil desenvolver linguagem de musical original, em que história e música são brasileiras e interligadas, em que os atores cantem uns para os outros e não para a plateia".

O diretor João Fonseca, que encenou "Tim Maia: Vale Tudo" em 2011, o mais bem-sucedido dos musicais biográficos, não faz restrições nem mesmo à Broadway: "A gente tem que fazer de tudo".

Mas diz que criar ao lado do compositor "é muito mais gostoso, as coisas nascem juntas", inclusive a atuação, com canções feitas para cada ator e não com este se adaptando a elas.

Fonseca já havia trabalhado assim em "Era no Tempo do Rei", também adaptado de romance de Ruy por Heloisa e Julia, com músicas originais de Carlos Lyra e Aldir Blanc, que permaneceu três meses em cartaz no Rio, em 2007.

Ruy diz que as canções daquele espetáculo chegaram a ser gravadas de forma independente, "mas o CD nunca foi para as lojas". E lamenta que também "Bilac" esteja sendo desprezado por gravadoras: "Talvez essa trilha maravilhosa do Nei continue inédita em disco. Mas terá existido no teatro, e quem ouviu ouviu, quem não ouviu perdeu."

BILAC VÊ ESTRELAS
DIREÇÃO MUSICAL Luís Filipe de Lima
ELENCO André Dias, Amanda Acosta, Caike Luna e outros
QUANDO sex. e sáb., às 21h, dom., às 18h; de 29/5 a 26/7
ONDE Espaço Promon, av. Pres. Juscelino Kubitschek, 1.830, tel. (11) 3071-4236
QUANTO R$ 60


Endereço da página:

Links no texto: