Folha de S. Paulo


crítica

Antonia Adnet dá novo frescor a repertório dos anos 40 e 50

O boogie-woogie não foi um gênero, mas a aplicação ao samba de elementos da música das orquestras populares americanas, o swing.

Aconteceu não por acaso nas décadas de 1940 e 1950, anos de aproximação econômica e cultural dos Estados Unidos com o Brasil em função da Segunda Guerra.

Cantando ao lado de colegas de geração (Roberta Sá, Pedro Miranda, João Cavalcanti, Alfredo Del-Penho, Pedro Paulo Malta), Antonia Adnet, 30, dá novo frescor a esse repertório, no qual certa ingenuidade convive com alta qualidade, no seu terceiro álbum solo, "Tem + Boogie Woogie no Samba".

Divulgação
A cantora e violonista Antonia Adnet, filha de Mario Adnet ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
A cantora e violonista Antonia Adnet, filha de Mario Adnet *DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM*

Houve uma pesquisa de repertório, dando em redescobertas como "Cadê a Jane?" (de Wilson Batista e Erasmo Silva). Mas o eixo é bem conhecido: cinco composições de Haroldo Barbosa (parcerias como Geraldo Jaques e Janet de Almeida) e três de Denis Brean (duas delas com Oswaldo Guilherme).

Essas músicas podem ganhar tratamento orquestral, como nas antigas gafieiras –mas aí é preciso arcar com os custos de uma orquestra. Ou reunir todos os instrumentos num só, como João Gilberto fez com algumas delas –mas aí é preciso ser João Gilberto.

Antonia e seu pai, Mario Adnet, optaram por uma estrutura jazzística, com um trio fixo (piano, baixo e bateria) cercado, a depender das faixas, por violão, guitarra, percussão e sopros. A escolha põe peso sonoro e balanço na medida certa, além da dar uniformidade ao CD.

De voz pequena, Antonia, como boa violonista que é, atua no papel de mais um integrante de um entrosado conjunto dedicado a interpretar ótimas músicas.

Algumas delas são: "Pra que Discutir com Madame", "Eu Quero um Samba", "Tintim por Tintim" e, é claro, "Boogie Woogie na Favela", que resumiu em 1945 aquela jogada estética e mercadológica ("Chegou o samba, minha gente/ Lá da terra do Tio Sam com novidade").

O CD abre com um "manifesto" ainda mais engenhoso: "Chiclete com Banana" (Almira Castilho/Gordurinha) é de 1958 e, visto em retrospecto, faz uma ponte entre o boogie-woogie e o tropicalismo.

Na faixa final, um "Adeus América" alegre, dançante, sem o banzo comovente e inesquecível que João Gilberto pôs em sua versão.

Dentre as 12 faixas, há uma exceção contemporânea, "Astronauta no Asfalto", em que os irmãos Mario e Chico Adnet atualizam o samba-rock, fazendo o que Nelson Motta chamou, elogiosamente, de "falso antigo". É algo que também traduz o álbum de Antonia.

TEM + BOOGIE WOOGIE NO SAMBA
ARTISTA Antonia Adnet
GRAVADORA Biscoito Fino
QUANTO R$ 29,90
AVALIAÇÃO muito bom


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