Folha de S. Paulo


A indústria musical não é mais sustentável, diz Amanda Palmer, a musa da vaquinha

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O celular vibra às 15h10 com uma mensagem de Amanda Palmer no WhatsApp. "Desculpe, este é o dia mais louco da minha vida."

A cantora e compositora norte-americana pede para adiar a entrevista. "Estou prestes a fazer história com minha primeira música no Patreon! Me dê mais 25 minutos". Ela explica, 25 minutos depois, que o Patreon é um site de financiamento coletivo –ou melhor, de mecenato.

Cada fã poderia doar de US$ 1 a US$ 100 a cada vez que Palmer colocasse uma nova música, vídeo ou poema nessa plataforma. Uma semana depois, acabou arrecadando US$ 1 milhão, dobrando a receita que o site havia levado cinco meses para angariar.

Divulgação
A cantora e escritora americana Amanda Palmer
A cantora e escritora americana Amanda Palmer

Para quem não conhece Amanda Palmer, um resumo: aos 39 anos, ela é uma espécie de musa e paladina da vaquinha on-line, à qual recorreu em 2012, após quebrar o contrato com a gravadora Roadrunner por não ter liberdade criativa suficiente.

"Não sinto a menor falta. Odiava não conseguir manter um diálogo franco com meus fãs sobre música." Em 2012, Palmer já havia arrecadado, pela plataforma Kickstarter, US$ 1 mi, recorde para esse tipo de projeto. Usou a quantia para gravar "Theatre is Evil".

"No subúrbio onde cresci, não existiam artistas, ao menos não visivelmente. Só conhecíamos Prince, Madonna, os astros da MTV", diz ela à Folha por telefone. "Minha geração definitivamente cresceu com uma perspectiva deformada do que significa ser um artista de sucesso."

Palmer defende a importância de uma "classe média" artística, que alimente cenas locais. "Essa indústria [do entretenimento] não é mais sustentável", comenta.
Defende também que, para sobreviver, criadores e indústria do entretenimento precisarão aprender a viver com menos exageros, além de, literalmente, abraçar seus fãs.

"A questão é: como você vai lidar com o fato de que a música é grátis na internet? Vai gentilmente pedir por apoio? Isso dobra o tempo e a energia necessários", afirma Palmer. "As pessoas gastam com música, isso é real e não dá para argumentar." O segredo, diz, é a sensibilidade. "Sempre fui melhor ser humano do que 'hitmaker'."


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