Folha de S. Paulo


'Nunca senti uma pressão tão grande', revela Marion Cotillard, em Cannes, sobre 'Macbeth'

O último dia de competição de Cannes terminou bastante anticlimático. "Macbeth", de Justin Kurzel, já havia sido exibido para uma boa parte da imprensa mundial, o que esvaziou a última sessão da mostra competitiva pela Palma de Ouro, neste sábado (23).

Mas a recepção à adaptação do cineasta australiano foi boa e o longa passou no crivo até dos críticos ingleses, superprotetores da obra de William Shakespeare. "Macbeth" já inicia prometendo uma visão épica do texto original, com uma batalha revezando entre caos absoluto e Macbeth (Michael Fassbender, ótimo), em câmera lenta, decepando membros e mergulhando sua espada nos inimigos.

"Não quis fazer uma transposição literal da batalha. Ela muda de acordo com o ponto de vista. Alguns soldados descrevem batalhas com detalhes absurdos, como se vissem por meio de uma lupa", disse Kurzel em entrevista à imprensa mundial logo após a exibição do filme, ao lado de Fassbender e Marion Cotillard, que interpreta Lady Macbeth.

"Li 'Macbeth' pela primeira vez com 15 anos e, quando li o roteiro, nunca havia me ocorrido que era sobre stress pós-traumático. Isso mudou tudo. O filme não é sobre a matança de várias pessoas, mas o fato de lutarmos com as mãos, enfiar a espada no meio dos músculos e quebrar os ossos dos inimigos", explicou o protagonista.

"Nunca interpretei Lady Macbeth, mas sabia que um dia faria a personagem. Só pensava apenas que seria no teatro e em francês. Fazer em inglês foi uma oportunidade maravilhosa", contou Cotillard.

Na abertura, quando Kurzel toma mais liberdade, ele consegue o trunfo do filme, que é compreender em um nível mais realista as intervenções sobrenaturais do bardo inglês —apoiado pela névoa eterna da Escócia, onde foi filmado. Caso das três bruxas profetas que alertam Macbeth de seu destino inevitável como rei. "Soldados que voltam do Iraque ou do Afeganistão sofrem de alucinações", disse Fassbender.

Parente mais próximo de "Trono Manchado de Sangue" (1957), de Akira Kurosawa, "Macbeth" tenta fugir do aspecto teatral ao mesmo tempo que mantém o texto original. Mas Kurzel é muito respeitoso e pouco ambicioso. Essa versão da tragédia mais curta de Shakespeare poderia ter investido em arroubos visuais mais inventivos ou em narrativas mais criativas —como, por exemplo, Baz Luhrmann fez em "Romeu + Julieta" (1996). "A cada quatro horas, um 'Macbeth' é encenado no mundo. É o maior blockbuster que existe, então precisava ver como trazer o aspecto cinematográfico à história. Isso é intimidante", conta o diretor.

O mesmo sentimento é compartilhado pelo casal de atores principais. "Nunca senti uma pressão tão grande ao interpretar uma personagem. Sou muito exigente e perfeccionista, então fico com medo de não entregar o que esperam. Sempre acho que vou decepcionar as pessoas e a mim mesma", confessou a francesa Marion Cotillard.

"Era uma tarefa aterrorizante [fazer 'Macbeth']. Mas assim que começamos a preparação e os ensaios, tudo sumiu. A melhor solução para controlar os nervos é trabalhar", resumiu Michael Fassbender.


Endereço da página:

Links no texto: