Folha de S. Paulo


Menino indonésio de 11 anos vira astro do jazz nos EUA

A longa ovação a Joey Alexander começou assim que ele tocou o último e delicado acorde de piano da sua apresentação, diante da plateia que lotava o Dizzy's Club Coca-Cola, em Manhattan.

Radiante com essa aclamação, ele se colocou de pé entre o baixista e o baterista, para que o trio agradecesse junto. A cena era docemente cômica: o topo da sua cabeça mal batia no peito dos músicos de apoio.

O que fazia todo sentido, já que Joey, mais novo astro midiático do jazz, tem apenas 11 anos.

Ele se tornou uma sensação da noite para o dia há um ano, quando foi convidado para tocar numa apresentação de gala do Jazz at Lincoln Center, em Nova York.

Já lançou um álbum, "My Favorite Things", e está com vários shows marcados nos próximos meses, inclusive no Newport Jazz Festival, em Rhode Island.

Descoberto em Jacarta, na Indonésia, há cerca de três anos, Joey se mudou com os pais para Nova York no ano passado, com a ajuda de luminares do jazz como o trompetista Wynton Marsalis.

Tudo isso é parte da improvável vida de uma criança-prodígio. O caso de Joey pode ser o mais comentado dos últimos tempos no jazz, mas está longe de ser o único.

Há também o pianista cego boliviano José André Montaño, 10, o baterista Kojo Roney, também 10, que já fez uma temporada de apresentações no Brooklyn, e Grace Kelly, 22, que lançou seu primeiro álbum aos 12, tocando sax alto. A lista é longa; alguns desenvolvem sólidas carreiras, enquanto outros ficam apenas na promessa.

Pessoalmente, Joey se parece com qualquer outro menino inteligente e altamente focado nos seus interesses. Ele claramente ama e respeita a sua forma de arte.

"O jazz é uma música difícil", disse ele, "e você precisa realmente se esforçar e também se divertir tocando; essa é a coisa mais importante".

"My Favorite Things" mostra que ele é um músico que reflete sobre o que faz, mas sem perder a naturalidade, com uma sofisticada paleta harmônica e uma sensibilidade dinâmica. No álbum, Joey trabalhou com músicos de alto nível, como o baixista Larry Grenadier.

Seu trabalho é caracterizado por um notável autodomínio, especialmente levando-se em conta suas origens. Joey, cujo nome é Josiah Alexander Sila, nasceu em Bali. Seus primeiros encontros com jazz foram através dos CDs do seu pai.

Joey começou a tocar piano aos 6 anos, pegando de ouvido um tema de Thelonious Monk, o que levou seu pai, pianista amador, a lhe ensinar alguns fundamentos. Fora isso, "eu ouvia discos, e também o YouTube, claro", contou ele.

Participou de jam sessions em Bali e, depois, Jacarta. Aos 8 anos, tocou para o pianista Herbie Hancock. Aos 9, disputou a primeira Master-Jam Fest, uma competição para artistas de jazz na Ucrânia. Recebeu o prêmio principal.

Logo um dos seus vídeos no YouTube chamou a atenção de Marsalis, diretor artístico do Jazz at Lincoln Center, que o convidou para se apresentar na noite de gala da organização em 2014.

Como número de encerramento, Joey tocou uma versão solo da balada "Round Midnight", de Monk, e foi aplaudido de pé, ganhando críticas elogiosas e alguns apoiadores influentes.

Convidado a recordar algum conselho precioso dado por um veterano do jazz, ele ficou momentaneamente sem palavras. "Sabe", disse afinal, "uma coisa que as pessoas sempre me dizem é: 'Continue tocando'".

Tradução por RODRIGO LEITE


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