Folha de S. Paulo


ANÁLISE

Ex-rebelde, apresentador David Letterman tornou-se convencional

Depois de 33 anos no ar, David Letterman, 68, rememorou os muitos porquês de seu longevo sucesso na TV americana, nos minutos finais de seu programa de despedida, exibido na quarta (20).

Enquanto os Foo Fighters, sua banda favorita, tocavam ao vivo "Everlong" (canção que, contou, o ajudou a superar uma cirurgia no coração), uma edição frenética mostrou os melhores momentos do programa.

De políticos e presidentes a bandas em início de carreira, Letterman soube misturar a alta cultura e o alternativo em um programa bem menos comportado do que o de seus concorrentes.

Mas o passar do tempo fez com que seu "talk show" tenha se tornado o mais convencional –certamente o mais pausado– entre os programas do gênero exibidos.

Num estilo hoje dominado por apresentadores pelo menos 20 anos mais jovens (Jimmy Fallon, Jimmy Kimmel), que preferem criar brincadeiras com os convidados que caibam em vídeos de um minuto (para viralizar na internet), o programa de Letterman parecia em câmera lenta.

Enquanto seus concorrentes se dirigem a um público que não mais assiste à TV ao vivo, Letterman parecia só querer mesmo ouvir seus entrevistados e fazer as piadas do monólogo inicial.

Foi como passar o bastão do frenesi: há 33 anos, quando virou apresentador de fim de noite, Letterman representava o que Jimmy Fallon representa hoje –o apresentador mais engraçado e rebelde.

Nas últimas duas semanas de despedida, o veterano recebeu dos atuais residentes da Casa Branca, Barack e Michelle Obama, a Oprah Winfrey, Julia Roberts e Tom Hanks, além de seus músicos favoritos, de Bob Dylan a Eddie Vedder, por exemplo.

Nenhum deles estava ali para lançar filme, álbum ou seriado. Os papos eram mais longos, sem merchandising, estendendo-se por dois ou três blocos do programa.

Na despedida, Letterman não entrevistou ninguém, mas levou diversas celebridades para criticarem o apresentador, em uma de suas populares listas Top 10: "O que você sempre quis dizer para David Letterman?". No melhor humor americano, a autodepreciação é bastante mais valorizada do que fazer pouco dos mais fracos.

O comediante negro Chris Rock disse estar "feliz que seu programa tenha sido dado a outro cara branco [Stephen Colbert]"; e a atriz e roteirista Tina Fey deu um "obrigado por finalmente comprovar que homens podem ser engraçados".

NA TV
LATE SHOW WITH DAVID LETTERMAN
Último programa
QUANDO hoje (22), às 22h30, na Record News


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