Folha de S. Paulo


Em Cannes, filme tenta quebrar visão negativa da cantora Amy Winehouse

A primeira cena do documentário "Amy" mostra Amy Winehouse ainda pré-adolescente numa festa de aniversário de um amigo. Ela então começa a cantar "Feliz Aniversário" e todos se calam para ouvi-la em um show particular.

Em menos de dez anos, aquela menina alegre se tornaria um fenômeno pop e uma artista com demônios interiores —que a transformaram em personagem frequente de tabloides e que a levaram à morte, aos 27 anos.

"As pessoas choram vendo o longa porque nunca a viram alegre. Eu achava que ela estava triste o tempo todo", diz o diretor Asif Kapadia ("Senna") à Folha, em Cannes, na França, onde o filme foi exibido pela primeira vez no sábado (16).

Assim como no filme em que documentou a carreira do piloto brasileiro morto em 1994, Kapadia constrói um retrato a partir de imagens de arquivo e declarações íntimas —mas nunca com os entrevistados em frente à câmera. "Queria mostrar apenas Amy, ver sua cara o tempo todo", conta o cineasta.

O diretor também volta a trabalhar com o compositor brasileiro Antônio Pinto ("Cidade de Deus"), que escolheu um caminho longe do jazz e do R&B que marcaram a cantora. "Posso dizer que fiz um dueto com ela", brinca o carioca. "A diferença entre Amy e Senna é que todo mundo o amava, enquanto com ela havia diversas direções e pessoas que não se gostavam."

Tanto que Mitchell Winehouse, pai da cantora, retratado no filme como um aproveitador, disse que o longa é "enganador". Ele ameaça protestar quando a obra chegar ao Reino Unido. Um ex-namorado, Reg Traviss, teme que o filme mostre "uma Amy irreal".

Nada que abale o cineasta britânico. "Todo mundo assinou permissões e não tem nada inventado", conta ele. "Muitas das imagens já foram exibidas antes. Reunidas, elas tentam mostrar as razões que levaram Amy à morte."

A começar com a ausência de Mitchell Winehouse, que se separou da mãe de Amy quando a filha tinha nove anos e só voltou a fazer parte da vida dela quando o sucesso chegou. Em uma passagem do documentário, a cantora tenta se recuperar do vício em heroína e cocaína nas Bahamas. Ela convida o pai e ele aterrissa com uma equipe de um reality show sobre ele. "Mas não é sobre você, não é?", questiona Amy.

Em seguida, vem a bulimia nunca tratada e o relacionamento com outro viciado em drogas —Blake Fielder-Civil—, além do convívio conturbado com a mídia.

"Todos somos estúpidos aos 21, a diferença é que não temos centenas de paparazzi registrando tudo", alfineta o cineasta, que diz nunca ter visto sua personagem ao vivo. "Quero mudar a percepção negativa que as pessoas têm de Amy. Ela era uma artista e uma garota engraçada."


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