Folha de S. Paulo


Músicos de sinfônicas do Rio criam orquestra para atrair jovens

Johann Sebastian Rio

Saem de cena os programas sisudos e a etiqueta rígida das salas de concerto. Em seu lugar, roupas leves, informalidade, palcos alternativos e uma proposta de chamar a atenção dos jovens nas redes sociais.

A conjunção entre a vontade de músicos eruditos experientes em popularizar seus repertórios e a busca por renovação de uma plateia que envelhece e mingua dia após dia levou à criação da orquestra de câmara Johann Sebastian Rio.

Estrear de fato, diante do público, a Johann Sebastian Rio sequer estreou. Mas desde novembro passado a orquestra já faz algum sucesso no plano virtual: mesmo sem patrocínio ou divulgação, já são mais de duas mil curtidas no Facebook e uma série de vídeos em alta definição no Youtube até o momento.

Na primeira das produções para as redes sociais, editada com esmero pelo diretor de vídeo Bruno Vouzella e sua equipe, a Johann Sebastian Rio toca "Verão", de Antonio Vivaldi (1678-1741). Nada de orquestra posicionada: o destaque são os movimentos de câmera e os músicos que trocam de lugar o tempo todo.

Outro esquete, desta semana, é ainda mais ousado. Uma brincadeira com a possibilidade de quatro músicos, acompanhados de seus respectivos instrumentos —entre eles um contrabaixo acústico— dividirem um pequeno Fusca a caminho do Theatro Municipal do Rio.

Johann Sebastian Rio

A aguardada estreia nos palcos ocorrerá no Theatro Municipal do Rio, neste domingo (17). A Johann Sebastian Rio é formada por 16 músicos de diferentes orquestras das principais do país, como Petrobras Sinfônica, Orquestra do Theatro Municipal, Sinfônica da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Sinfônica Brasileira, Sinfônica Nacional e Sinfônica da Bahia.

Com instrumentistas de todas as orquestras do Rio e agendas difíceis de conciliar, ainda não há uma previsão para a próxima apresentação. A existência nas redes sociais é a aposta para manter o grupo em evidência, enquanto os patrocinadores não vêm. Todos seguem em suas orquestras de origem e mantêm a Johann Sebastian Rio como projeto paralelo.

SEM GAFES

Felipe Prazeres, regente, fundador e diretor da nova orquestra e spalla da Petrobras Sinfônica, avisa que a ideia é fazer do ambiente da sala de concerto menos intimidador ao público e, ao mesmo tempo, trazer para o clássico pessoas que não conhecem o gênero.

Pela vontade do grupo, Prazeres afirma que pequenos deslizes de etiqueta tradicionalmente reprimidos no ambiente erudito —como tosses e espirros, aplausos na hora errada ou mesmo os bebês que choram durante a apresentação— devem ser relevados para que a audiência nova se consolide.

"Na estreia de domingo [marcada para as 11h30 da manhã] vai haver muitas crianças. Mas se quiser chorar, pode chorar", brinca Prazeres, que complementa: "Pior é quando alguém aplaude na hora errada e outro vem e faz 'pshhh'. Isso é ruim, porque a pessoa [não habituada] tem de passar por isso e, se for assim [traumático], ela não voltará".

Vanessa Rocha, produtora e executiva da Johann Sebastian Rio, afirma que a diminuição da plateia da música de concerto é um fenômeno mundial e alarmante.

No caso do Rio, afirma Rocha, pesquisas apontam que 4% das pessoas tem interesse pela música clássica —ainda que, conforme o mesmo levantamento, a maioria dos cariocas apontam a música de modo geral como a manifestação artística preferida. "É muito contraditório", comenta.

Divulgação
Músicos da recém-criada orquestra Johann Sebastian
Músicos da recém-criada orquestra Johann Sebastian

DOSES HOMEOPÁTICAS

Mais velho dos instrumentistas do novo grupo, Eduardo Pereira, que integra também a Orquestra do Theatro Municipal do Rio, aponta como diferença da proposta a escolha por um repertório mais ágil.

"A opção é por peças curtas. As pessoas não têm mais concentração para ouvir uma sinfonia de [Gustav] Mahler [1860-1911] inteira. É difícil, demanda preparo. É como comer um prato sofisticado... A nossa dose é homeopática", afirma.

O programa para o espetáculo de estreia inclui, além de Vivaldi, Heitor Villa-Lobos, Johann Sebastian Bach e Francesco Geminiani. Mas também terá "Noites Cariocas", de Jacob do Bandolim, "Primavera Portenha" de Astor Piazzola além de outras "surpresas".

No ensaio acompanhado pela reportagem da Folha, realizado na Fundição Progresso, na Lapa, centro do Rio, o grupo ensaiou uma versão de "Sweet Child O'Mine", do grupo de hardrock americano Guns N'Roses - com direito a solo com violino eletrificado.

Uma das atrações do primeiro espetaculo é a presença do maestro da Orquestra Sinfônica da Bahia, Carlos Prazeres, solista convidado da Johann Sebastian Rio.

Igualmente convidados, se apresentarão ainda a bailarina multipremiada Liana Vasconcelos, assim como a mezzo-soprano Carolina Faria e a spalla (primeiro-violino) Priscila Plata Rato, da Orquestra Sinfônica da Bahia.

Apesar de o primeiro palco da Johann Sebastian Rio ser o pomposo Theatro Municipal carioca, o grupo quer levar a música clássica a lugares cada vez menos prováveis. Você pode topar com eles nos próximos meses em ginásios, salões, praças, casas noturnas. Ou na tela do computador.

"Vamos fazer o que costumamos fazer, em nossas casas. Tocar coisas populares, como diversão. E música clássica também, claro", afirma o violinista Márcio Sanchez, que integra as orquestras do Theatro Municipal e a Petrobras Sinfônica.

Johann Sebastian Rio


Endereço da página: