Folha de S. Paulo


ANÁLISE

Estilo límpido de tocar fez de B.B. King o embaixador do blues

B.B. King era o último sobrevivente da época de ouro do blues. Quando começou sua carreira musical, em 1948, tocando num programa de rádio apresentado pelo bluesman Sonny Boy Williamson, estavam em plena atividade nomes lendários do blues como Lightning Hopkins (1912-1982), John Lee Hooker (1917-2001), Muddy Waters (1913-1983), Howlin' Wolf (1910-1976), Albert King (1923-1992) e Elmore James (1918-1963).

"B.B. King tem, para o blues, a mesma importância que Louis Armstrong teve para o jazz. Ele é um embaixador do gênero", disse o autor e pesquisador musical Peter Guralnick.

É verdade: mais que um grande músico, King ajudou a popularizar o blues, especialmente a partir do fim dos anos 60, quando passou a tocar para plateias de rock e influenciou guitarristas como Eric Clapton, Jeff Beck e Jimi Hendrix.

Enquanto muitos de seus contemporâneos tocavam um blues mais rural, vindo dos campos de algodão, King, mesmo tendo passado boa parte da juventude trabalhando nos campos do Mississipi e cantando em igrejas, sempre teve um estilo mais urbano e sofisticado.

Adorava música gospel e o jazz das big bands, cultuava o violonista espanhol Andrés Segovia e o guitarrista norte-americano Les Paul, e criou um estilo límpido e aparentemente simples de tocar guitarra, influenciando músicos como George Benson e Eric Clapton (que King sempre considerou guitarristas muito superiores a ele próprio).

Desde muito jovem, King sonhava em levar o blues para públicos mais urbanos. Sabia o preconceito que o gênero sofria, por um suposto primitivismo, especialmente na primeira metade do século 20, e fez de tudo para torná-lo mais "palatável" ao gosto médio.

Numa recente entrevista ao jornal inglês "The Telegraph", King contou que um primo de segundo grau, o bluesman Bukka White (1909-1977), lhe deu o melhor conselho de todos: "Se você vai tocar blues, as pessoas vão te criticar, então sempre se vista como se estivesse indo pedir dinheiro no banco".

King seguiu o conselho e abraçou a elegância, tanto na vestimenta quanto em sua música linda, triste e arrebatadora.

ANDRÉ BARCINSKI é jornalista e autor do livro "Pavões Misteriosos" (Três Estrelas)


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