Folha de S. Paulo


Quadrinista da Folha, André Dahmer lança seu 3º livro de poemas

André Dahmer, 41 anos, o poeta, é mais velho que o André Dahmer cartunista, que assina a sarcástica tirinha "Malvados" na "Ilustrada".

"Escrevo poemas desde os 14, mas só tive coragem de publicá-los há quatro [anos]", diz o artista à Folha, do Rio, onde mora, por telefone.

A conversa aconteceu na véspera de sua viagem a São Paulo para o lançamento neste sábado (9) de seu terceiro livro de poemas, "A Coragem do Primeiro Pássaro", publicado pela editora Lote 42.

Bruno Stock/Divulgação/Bruno Stock/Divulgação
Quadrinista André Dahmer, durante a oficina de cartum na Bilbioteca Pública do Paraná
Quadrinista André Dahmer, durante a oficina de cartum na Bilbioteca Pública do Paraná

O terceiro voo de Dahmer pela poesia, no entanto, não foi mais suave. "Uma hora, você cansa e entrega. Senão destrói tudo, inclusive as coisas boas que fez", comenta. Como dizem os versos do último poema da obra, "não existe final feliz. Ou é final ou é feliz".

Curioso é que o título -a imagem do pássaro-, evoque justamente evolução. "É bonito, né? Esse título me acompanha há anos. O sentido do primeiro pássaro que sai do ninho e alça voo."

Na cadeia da evolução natural, se a poesia está para as aves, o quadrinho estaria para os peixes. "Tenho dez anos de quadrinhos, parece que gira uma chave no cérebro e eu sei fazer. Como alguém que aprende a temperar peixe."

Já com a poesia, conta, tem "outras limitações", ainda não superadas com o tempo, "que é o senhor de tudo".

FEITO PARA ACABAR

Os ares de "A Coragem do Primeiro Pássaro" não são tranquilos. "É um livro duro", resume o autor. A voz poética -nada autobiográfica, Dahmer faz questão de explicar- rasga o coração em versos contemplativos sobre perdas e superações (leia abaixo).

Assim como em seus dois primeiros livros de poemas -"Ninguém Muda Ninguém" (2010), pela editora Flâneur, e "Minha Alma Anagrama de Lama" (2013), pela Mórula-, Dahmer escolheu uma editora pequena para publicar.

Por duas razões. A primeira está nos sentidos da palavra "amador": "Um é pejorativo, é o cara que não faz muito bem ou está aprendendo. Mas é também quem faz algo por amor". Ele diz que poderia ter escolhido uma casa que o levasse a todas as regiões do país -como fez com seus volumes de quadrinhos, publicados pela Companhia das Letras, Leya, Gênese e Desiderata-, mas preferiu uma edição enxuta. "Dois mil exemplares e acabou".

Como todas as outras coisas do mundo que, para Dahmer, "são feitas para acabar". "Não sei se você sabe, mas o prédio onde você está vai acabar", diz. "Essa vaidade de artista é uma bobagem. A posteridade é coisa de maluco. Não quero virar nome de viaduto."

Sobre a sua própria posteridade, André Dahmer faz graça com os diferentes "status" de poeta e quadrinista. "Deve ser feio ser enterrado como quadrinista, imagina, é melhor ser poeta. É mais honroso, acho", conta. "É brincadeira, viu?"

LEIA TRÊS POEMAS DE 'A CORAGEM DO PRIMEIRO PÁSSARO'

na parede que você é
ainda silva meu vento
nas suas frestas

*

meu coração
cidade imensa
lugar em que você aprendeu
a viver sozinha

*

língua
braço armado
do coração

A CORAGEM DO PRIMEIRO PÁSSARO
AUTOR André Dahmer
EDITORA Lote 42
QUANTO R$ 29,90 (64 págs.)
QUANDO lançamento neste sáb. (9), às 16h20 - banca Tatuí, al. Barão de Tatuí, 275, tel. (11) 97617-1538


Endereço da página: