Folha de S. Paulo


"O escritor é um monstro moral", disse Dalton Trevisan em rara entrevista

Em 1968, o recluso Dalton Trevisan deu uma de suas raríssimas entrevistas. O material, escrito pelo jornalista e escritor Luiz Vilela, foi publicado no "Jornal da Tarde" em 6 de julho.Dalton tinha então 43 anos e havia acabado de vencer o 1º Concurso Nacional de Contos, no Paraná.

Confira trechos do que o autor disse na época.

"Os elogios são inúteis; uma crítica me estimula quando é negativa".

Ao ser perguntado se os irmãos liam seus contos, Dalton respondeu que sim, mas que às vezes preferiria que não lessem.

"Eles devem pensar: como que uma pessoa educada com carinho, nos melhores sentimentos, virou esse monstro moral?".

"É isso o que o escritor é: um monstro moral".

"O escritor é uma pessoa que não merece nenhuma confiança. Um amigo chega e me conta as maiores dores; eu escuto com atenção, mas estou é recolhendo material para um conto. [...] Eu sei disso na hora. Surge então a má consciência. Sei que estou fazendo assim e não desejaria fazer, mas não há outro jeito. O escritor é um ser maldito".

"Escrever é a única justificativa que encontro para estar vivo. Meus gestos cotidianos são vazios. Mesmo o amor e o sexo; o sexo dura muito pouco tempo. As outras coisas? Eu não tenho o dom de ganhar dinheiro; nem ambição de poder. Escrever é uma atividade inútil, mas, para mim, ainda é a menos inútil de todas e a que me faz continuar vivo. E qual a compensação de escrever? Uma frase boa que a gente cria, uma imagem, coisas assim, que agradam num momento e no dia seguinte já nos deixam insatisfeitos. O escritor troca a sua vida por nada."

"Meu lugar é entre os últimos dos contistas menores".

Outra curiosidade é que Dalton, sempre tão cioso de sua privacidade e avesso a todo tipo de exposição, pediu que Vilela citasse os nomes de suas filha na entrevista.

"Gostaria de ver o nome delas na reportagem; se chamam Rosana e Isabel".

Confira a íntegra da entrevista no blog de Luiz Vilela.


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