Folha de S. Paulo


Novo Whitney Museum dobra de espaço em Nova York

Diante do píer aonde há mais de um século desembarcaram os sobreviventes do Titanic, a nova sede do museu Whitney sugere formas vagamente náuticas.

Mas o que chama atenção no prédio do arquiteto italiano Renzo Piano, de nove andares e que custou US$ 422 milhões (cerca de R$ 1,3 bilhão), é seu interior: seu quinto andar abriga a maior galeria aberta de Nova York sem obstrução de colunas.

Com o dobro do espaço da sede anterior, o novo Whitney Museum of American Art é um anti-Guggenheim Bilbao, na forma e no conteúdo: a arquitetura discreta dificilmente vai virar capa de livros de arte (ou ícone da cidade).

Mas, ao contrário do interior daquele museu coberto de titânio na cidade espanhola, onde só obras do escultor Richard Serra funcionam (e quase nada mais), o Whitney criou salas e mais salas flexíveis e bem projetadas.

Foi aberto, na semana passada, com uma exposição de fôlego da arte americana do início do século 20 até os dias de hoje, com 600 obras e ocupando cinco andares.

HIGH LINE

Criado pela mecenas Gertrude Vanderbilt Whitney (1875-1942) em 1930 para expor arte moderna americana, o museu sonhava com uma ampliação de sua última sede, inaugurada em 1966 e desenhada pelo húngaro (e ex-Bauhaus) Marcel Breuer, mas a vizinhança do aristocrático Upper East Side nova-iorquino bateu o pé.

Uma doação de US$ 125 milhões (aproximadamente R$ 382 milhões) feita em 2007 pelo magnata dos cosméticos Leonard Lauder permitiu o lançamento de uma campanha de arrecadação de fundos para uma nova sede, que já chegou a US$ 752 milhões (cerca de R$ 2,3 bilhões).

Na mesma época, a prefeitura de Nova York promovia a transformação em parque de uma velha linha férrea no sul de Manhattan, a chamada High Line, que passava por uma área de matadouros e frigoríficos, onde grandes galpões industriais acolhiam a maior concentração de galerias da cidade.

Para ancorar o parque, a prefeitura ofereceu o terreno no início do elevado ao novo museu. Hoje, o High Line sozinho recebe quase 5 milhões de turistas por ano.

Os galpões das galerias sobreviveram por conta do zoneamento local, mas estacionamentos e fábricas deram lugar para alguns dos prédios mais belos (e caros) da cidade.

MIRANTES

A arquitetura do museu Whitney também reflete a virada de Manhattan.

Ao contrário do antigo imóvel revestido de granito projetado por Breuer, quase impenetrável, onde as poucas e diminutas janelas olhavam obliquamente para o exterior, o novo edifício é envidraçado e esbanja mirantes.

Há uma sucessão de terraços, virados para a cidade, e janelões, para o rio, mas protegidos do barulhento trânsito da "marginal" local, ambos já tomados de turistas que tiram fotos dos mais variados ângulos.

No térreo, foram colocadas cadeirinhas plásticas do lado de fora, ocupadas por gente tirando uma soneca ou tomando sol na primavera.

"America Is Hard to See" [É difícil ver a América, ou, mais livremente, América é difícil de definir], é a exposição que abre o novo prédio, em cartaz até o final de setembro.

Ela mescla os grandes nomes do acervo (Warhol, O'Keeffe, Hopper, Calder, Basquiat, Mapplethorpe) a diversos menos conhecidos.

No quinto andar, o visitante se depara com um enorme mural formado por dezenas de retratos repetidos de Ronald Reagan com a legenda "He kills me" [ele me mata].

A obra, do texano Donald Moffett, denunciava o descaso do então presidente republicano, em 1987, com a epidemia de Aids. Sobreposto, um poster da artista Barbara Kruger diz "We don't need another hero" [não precisamos de um outro herói"] em letras estridentes.

Em salas vizinhas, obras tratam do 11 de Setembro, da luta (ainda em andamento) contra a segregação racial, de feminismo e de imigração.

Uma obra denunciando a especulação imobiliária em 1971, censurada pelo Guggenheim, ganha uma sala inteira. No Whitney, o conteúdo supera a embalagem.

Editoria de arte/Folhapress

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