Folha de S. Paulo


Em um universo paralelo, 60 mil dançam dia e noite no Tomorrowland

Envoltas numa espécie de universo paralelo, as 60 mil pessoas que acompanharam o primeiro dia do Tomorrowland queriam saber se era dia ou era noite. A maioria queria mesmo era dançar música eletrônica, seja em algum dos sete palcos, seja na piscina reservada para os acampados na área VIP.

Maior festival do gênero do mundo, sua primeira edição no Brasil aconteceu neste fim de semana prolongado, no parque Maeda, em Itu, a 101 km de São Paulo.

"A natureza, o som e essa gente toda faz a gente se sentir mais leve, mais amado pelo mundo", disse o estudante cearense Fernando Acioly, 23, fantasiado de jacaré.

Bichos selvagens, aliás, como pandas, gatos e leões eram trajes bem comuns em Itu. Sessenta amigos usavam fantasias de urso.

Já as garotas seguiam o estilo dos festivais de rock da costa oeste americana e abusavam de tops de crochê, biquínis e shorts curtos.

Uma delas, não se sabe se pelo efeito da música ou do clima de liberdade, tirou a blusa e fez topless para as câmeras que registravam o show da dupla de DJs W&W.

A cidade cenográfica, uma versão alucinógena daquelas de conto de fadas, só que mais colorida e com fundo musical ensurdecedor, tinha cogumelos brotando da grama e um arco-íris de plástico

Segundo a organização, cerca de 200 mil litros de cerveja foram consumidos só no primeiro dia do festival, na sexta-feira (1º).

O álcool cobrou o preço: envelopes de Advil, para dor de cabeça, e Epocler, para o fígado, foram campeões de venda. Os remédios, que custavam R$ 11, saíram às centenas, segundo a vendedora.

Drogas também rolaram. Apesar da tolerância zero para substâncias ilícitas –o festival montou uma torre de controle e instalou mais de 96 câmeras para coibir o consumo e proteger o público de furtos–, era possível ver jovens engolindo pílulas de MDMA (ecstasy) e grupos fumando maconha tranquilamente.

De acordo com o Corpo de Bombeiros, cerca de 400 pessoas foram atendidas na sexta-feira, 80 delas por uso de drogas e o restante pelo abuso de álcool.

MOEDA PRÓPRIA

Os 101 bares do festival não deram conta do público, ávido por goles de cerveja –cada copo custava R$ 11– e hambúrgueres de até R$ 33. O festival criou uma moeda, o "token", que valia R$ 5,50 cada.

O preço não agradou aos brasileiros –um grupo de belgas, local de origem do Tomorrowland, achou os preços mais em conta, se comparado às edições em seu país.

Mas o preço não foi impeditivo para a massa de gente consumir tudo o que via pela frente. Quiosques de roupas, tendas de batatas fritas belgas, padaria, tabacarias e até um posto de correio, onde era possível enviar postais para qualquer lugar do globo, estavam sempre lotados.

O sol de Itu também ajudou. Na manhã do primeiro dia, a farmácia próxima às tendas do camping já tinha vendido todo o estoque de protetor solar. Cada frasco custava R$ 50, ou nove "tokens".

No acampamento Dreamville, cerca de 30 mil pessoas dividiam a experiência de roncar e acompanhar os shows dos 178 DJs que se apresentariam até o domingo (3).

Gente vinda de todo o mundo, da América Latina à Turquia, do Japão à Bélgica, se dividiam entre as 1.800 barracas e o espaço The Lobby, o acampamento VIP, com 300 tendas e piscina, e custava R$ 2.000 para os três dias.


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