Folha de S. Paulo


CRÍTICA

Pais mafiosos se enfrentam em 'Noite Sem Fim', uma boa história de vingança

Liam Neeson e Ed Harris são atores conhecidos, com um punhado de atuações sólidas, indicações ao Oscar e alguns sucessos de bilheteria.

Atualmente, eles também dividem uma fase, já muito duradoura, de escolhas erradas de trabalho.

Mas este "Noite Sem Fim" está distante dos melodramas recentes protagonizados por Harris e dos blockbusters de ação rasteira nos quais Neeson virou figura fácil.

Mesmo com direção de Jaume Collet-Serra, que assina dois desses filmecos de ação de Neeson –"Desconhecido" (2011) e "Sem Escalas" (2014)–, "Noite Sem Fim" é muito bom.

Divulgação
Os mafiosos Shawn (Ed Harris, à esquerda) e Jimmy (Liam Neeson) em um raro momento de trégua em 'Noite sem Fim'
Os mafiosos Shawn (Ed Harris, à esquerda) e Jimmy (Liam Neeson) em um raro momento de trégua em 'Noite sem Fim'

O mérito maior é do roteirista Brad Ingelsby, que escreveu em 2013 "Tudo por Justiça", com Christian Bale e Casey Affleck, história forte de relações familiares destruídas e busca por vingança.

E esse também é o mote de "Noite Sem Fim". Shawn (Harris) e Jimmy (Neeson) são melhores amigos, há décadas. E "colegas de trabalho". Shawn é um chefão da máfia de Nova York, e Jimmy, seu melhor e mais violento matador.

A noite interminável que dá título ao filme é deflagrada quando Jimmy vê o filho, Mike (Joel Kinnaman, o herói RoboCop da versão do brasileiro José Padilha), na mira de outro jovem. Jimmy o mata, e sabe muito bem em quem atirou.

Ele liga para Shawn e diz que acabou de matar o filho dele, para salvar o seu. Shawn promete matar Mike em represália, mesmo sabendo que Jimmy fará tudo para impedir que isso aconteça.

Começa uma caçada de cenas muito violentas intercalados por juras de vingança, declarações de fidelidade e acusações de traição.

duelo de macheza

O filme poderia ser apenas mais um duelo de testosterona, entre tantos produzidos anualmente em Hollywood.

Aí entram as boas caracterizações dos atores para os personagens raivosos e amargurados. Harris é mais contido, denso. Parece que irá explodir na cena seguinte. Já Neeson consegue quebrar um pouco a cara de pedra que exibe já faz algum tempo.

Debaixo de poses e palavras de macheza, estão fragilizados, ainda um tanto sem ação diante do destino dos filhos selado numa briga.

Numa leitura simples –e apressada– do filme, Jimmy seria o bonzinho, levado a matar pelas circunstâncias.

Sobraria a Shawn ser o vilão, aquele incapaz de perdoar o melhor amigo, o homem que ordena a perseguição sem trégua ao "herói".

Aí o filme desmonta esse quadro com cenas intensas que confundem esses papeis.

Não tanto pelo diretor, mas principalmente pelo roteiro e pela clara disposição de Neeson e Harris para atuarem de verdade, "Noite Sem Fim" escapa de ser um filme comum.

A história vai bem, até uma solução final engenhosa. O roteiro de Ingelsby é tão bacana que é possível perder tempo pensando em como Martin Scorsese aproveitaria um material tão explosivo.

Noite Sem Fim
DIREÇÃO: JAUME COLLET-SERRA
ELENCO: LIAM NEESON, ED HARRIS, JONATHAN KINNAMAN
PRODUÇÃO: EUA, 2015, 16 ANOS


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