"Vocês me fazem sentir como a Lady Gaga com um pênis", dizia a cantora e drag queen Adore Delano, 25 anos, para o público do Cine Joia, em São Paulo, onde se apresentou na noite do domingo (26).
Na pista da casa de shows, casais, fãs solteiros e drag queens –homens que se vestem de mulher em performances, com destaque para a que se inspirou em Iemanjá para compor o visual– cantarolavam em inglês as músicas de "Till Death Do Us Party", primeiro disco de Delano, de 2014.
Os mais empolgados tentaram invadir o palco para tirar selfies com a cantora –apenas uma garota conseguiu. A própria Delano deu a deixa: ela convidou um rapaz de chapéu a la Pharrell Williams, com abas largas, para cantar e trocar alguns amassos.
Lançado após sua participação em "RuPaul's Drag Race", "Till Death do Us Party" estreou em 3º lugar na parada de música dance da Billboard e em 59º na classificação geral. Algo a se celebrar para uma artista criada em uma cultura underground como o drag e que despontou na sexta temporada do reality show americano. "Não somos famosas, somos 'gaymosas'", diz ela, que trabalha agora em seu segundo disco, previsto para o fim de 2015.
Ou ele, já que quem conversa com a Folha no camarim do Cine Joia não é mais Adore Delano. Em 30 minutos –e na medida em que a meia-calça arrastão, os saltos, a lingerie preta, a peruca e a maquiagem vão se acomodando em suas maletas–, a "queen" dá lugar a Danny Noriega, 25 anos, ex-participante do "American Idol" em 2008.
Na época, o garoto franzino, com uma franjona castanha com mechas coloridas cobrindo boa parte do rosto, ficou entre os 16 últimos concorrentes do programa. Já em 2014, no "RuPaul's Drag Race", foi um dos três finalistas.
Produzida pelo canal pago americano Logo TV desde 2009, a atração chegou ao Brasil em 2013, pela Netflix. O serviço de streaming não fornece dados de audiência, mas um bom indicador é a proliferação de festas LGBT em homenagem ao programa, como a "Priscilla", em que Delano se apresentou. Antes de São Paulo (onde fez shows na sexta e no domingo), ela passou por Curitiba e pelo Rio de Janeiro, em shows para 1.500 pessoas. Na quinta (30), estará no Recife.
BRITNEY E COURTNEY LOVE
Adore Delano não é nenhuma Lady Gaga –ela mesma fã de "RuPaul's Drag Race", assim como Scarlett Johansson–, mas integra um chacoalhão cultural purpurinado. Algumas das competidoras saíram com bons contratos publicitários do reality. A própria Adore estrelou uma campanha da Starbucks ao lado da vencedora de sua temporada, Bianca del Rio (uma comediante afiada que, na opinião do "New York Times", é a versão drag de Joan Rivers).
"Tem ficado maior desde que 'Drag Race' estreou. Ouço muitos jovens de 18, 19 anos me dizendo que tem vontade de ser drag", conta Noriega depois de um trago em seu cigarro, de camiseta e boné preto para trás. Ainda há traços da maquiagem daquela noite, inspirada na cantora Lana del Rey, em seu rosto. "Eu digo a eles que todo mundo deveria fazer isso. Acho que precisa ser divertido e inteligente, e você precisa ter uma razão para fazê-lo", comenta.
Um conselho que o próprio Noriega deveria ter escutado quando participou de "American Idol", aos 17 anos. "Antes disso, já me vestia como garota há três anos. Me identificava como transgênero dos 14 aos 16", comenta ela, que avalia o próprio estilo como algo "entre Britney Spears e Courtney Love".
Acabou deixando os looks femininos de lado quando começaram as gravações de seu primeiro reality show. Temia que a América fosse rir dela quando entrasse ao vivo na televisão.
"Eu estava no último ano do ensino médio, fiquei realmente assustada. Então foi libertador participar de um programa de TV como uma drag queen, dizer 'foda-se', fazer o que quisesse e ser celebrada por isso."
ADORE DELANO
QUANDO qui. (30), às 22h
ONDE Clube Metrópole - r. das Ninfas, 125, Recife, tel. (81) 3423-0123
QUANTO de R$ 50 a R$ 120