Folha de S. Paulo


crítica

Com estilo límpido, romance "Stoner" emula a vida como ela é

"Stoner", romance de 1965 tão esquecido quanto seu autor, John Williams (1922-1994), é uma perfeição. Não é possível afirmar o mesmo da primeira edição brasileira, com número de erros acima do aceitável. Deixemos a tragédia ortográfica para o final, já que a obra-prima de Williams é suficientemente triste no impacto que causa, em decorrência de sua tessitura.

Biografia imaginária altamente condensada, "Stoner" é previsível, tanto quanto pode ser a cronologia de um homem.

Após primeira edição com erros, editora lança versão revisada

Nascido no meio rural do Missouri em 1891, filho único destinado a suceder o pai na lida do sítio familiar, William Stoner vai à universidade para estudar ciências agrárias e se apaixona pela literatura, mas não somente: é seduzido pela docência, aderindo aos ritos acadêmicos como a uma religião inventada para abrigar suas inconsistências pessoais.

O responsável, o velho professor Sloane, logo vislumbra no tímido estudante a abnegação necessária para o ofício, forjada pelo caráter estoico da vida no campo. Não se equivoca, e no campus da Universidade de Colúmbia tem início a ascensão pequeno-burguesa de seu pupilo, primeiro como assistente, depois como professor de literatura medieval inglesa.

Stoner, sujeito gris exceto nas paixões, não exige segredos nem invenção estilística por parte de Williams.

A simplicidade estrutural do romance é a mesma da vida, embora se inicie pela morte do protagonista, em 1956 (aos 65, diferentemente do que informa a orelha do livro, que menciona os "50 anos de William Stoner" – e aí começam os problemas da edição). O estilo é límpido como seu personagem, homem de grande retidão ética e laconismo inquietante.

PODEROSA IMAGÉTICA

O poder alusivo da existência miniaturizada de qualquer um por meio de Stoner não deve ser subestimado, pois a linguagem do autor, acrescida da poderosa imagética resultante de detalhes pinçados da realidade com argúcia, arrasta o leitor sem dó a um jogo comovente que reflete nossas experiências reais por meio da literatura.

A primeira edição do livro no Brasil, lançada no início do ano pela editora Rádio Londres, tem cochilos de revisão e erros em tal número que não cabe mencioná-los neste espaço, assim como não se encaixa a expressão "transar" no Meio-Oeste ("MidWest", no livro) dos EUA dos anos 30 com sua prosa tão austera.

STONER
AUTOR John Williams
TRADUÇÃO Marcos Maffei
EDITORA Rádio Londres
QUANTO R$ 33,90 (316 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo


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