Em fevereiro, Odin Biron, ator americano que interpreta o filho ingênuo de dois pais gays em um seriado russo extremamente popular, "Internos", assumiu um risco calculado. Ele revelou que é gay.
Seus colegas ficaram chocados. Seu agente o aconselhou a não falar com a mídia sensacionalista.
Nas páginas de fãs do programa, espectadores escreveram sobre sua decepção ou denunciaram teorias da conspiração. "Havia uma sensação de perigo físico, de risco político", disse Biron. Abalado, ele deixou o país até que as coisas se acalmassem.
Então voltou.
O fato de um ator ser gay não é novidade, mesmo na Rússia. O que é raro é uma declaração pública. Nos últimos anos, a enraizada cultura russa do "não pergunte, não diga" aliou-se a uma lei de 2013 que criminaliza a chamada "propaganda" gay e outra lei contra ofensas à sensibilidade de religiosos.
Um dos colegas de Biron em "Internos" -Ivan Okhlobystin, que já foi sacerdote da Igreja Ortodoxa Russa e disse em 2014 que os gays deveriam ser queimados vivos em fornos-chamou Biron de "sodomita". Ele também disse que Biron estava louco ao se revelar e envolver o programa em um escândalo desnecessário.
Mas Biron, que tem 30 anos e parece mais jovem, disse que sabia exatamente o que estava fazendo. "Eu quis usar minha posição, o capital do estrelato e da fama que construí aqui -quis usar isso para o bem", disse ele.
"Especialmente depois que Vanya fez aqueles comentários", acrescentou, referindo-se a Okhlobystin. "Quis contrabalançar aquilo de alguma maneira."
As consequências da revelação de Biron continuam se desdobrando. Por enquanto, seu anúncio não parece ter encerrado sua carreira na Rússia. Sua agência disse que ele recebeu novas ofertas de trabalho na Rússia, e Biron está de volta aos palcos gravando a próxima temporada de "Internos". "Todo mundo foi positivo", disse Biron. "Recebi apoio do trabalho. Foi incrível como tudo se desenrolou."
Existe um sentimento geral de que Biron tem mais liberdade por ser americano. "Quase não há figuras públicas russas abertamente gays ou lésbicas, em parte porque para elas pode haver consequências negativas em suas carreiras", disse Igor Kochetkov, membro do conselho da Rede de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros da Rússia.
Na verdade, os russos que saíram do armário não se deram tão bem quanto Biron. Em 2013, o músico e jornalista cultural Oleg Dusaev se assumiu, revoltado com a notícia de que o hospital infantil onde ele foi voluntário não aceitaria mais doações de sangue de homossexuais. Ele perdeu o emprego e deixou o país depois que revelou sua orientação sexual.
Em entrevista via Skype, Dusaev disse admirar a coragem de Biron. "Quando um ator popular fala que é gay, acho que é muito importante para os adolescentes que o amam", disse Dusaev.