Folha de S. Paulo


Iggy Pop, em SP para a Fashion Week, pede para se apresentar no Rock in Rio

Iggy Pop tem 67 anos e não tem hora para acabar. Grande influência da cultura pop e punk do século passado, Mr. Pop está no Brasil para um evento na São Paulo Fashion Week, que começa nesta segunda-feira (13).

Parte do trio de ferro da cultura underground, ao lado de David Bowie e Lou Reed, ele é estrela do livro "Mate-me Por Favor", publicado em 1997 por Legs McNeil e Gillian McCain (L&PM, R$ 42, 464 págs.), que traça os primórdios e detalha os excessos do punk rock.

9.jun.2013/The Grosby Group
O músico americano Iggy Pop no aeroporto internacional de Los Angeles
O músico americano Iggy Pop no aeroporto internacional de Los Angeles

Em entrevista exclusiva, Iggy Pop fala por telefone, de um hotel paulistano, sobre moda, música, drogas e pede para cantar no Rock in Rio.

*

Folha - Olá, senhor Pop. Tudo bem com o senhor?
Iggy Pop - E aí cara, estou bem. Qual é o seu nome?

Pedro.
Ah, beleza, cara! O que está fazendo agora? Está num banheiro, num escritório? [risos] O que você está vestindo?

O que eu estou vestindo? Estou de camisa de manga longa preta, jeans e botas. E o sr.?
Jeans preto, jaqueta de couro de motociclista e chinelo.

Não acha que está quente em São Paulo para usar jaqueta de couro?
Ah, mas estou sem camiseta por baixo e tem ar-condicionado aqui no hotel. Estão provando umas roupas em mim e não queria ter trabalho de ficar tirando a camiseta, é problema demais para lidar.

O senhor está em São Paulo para lançar uma linha da marca de óculos Chilli Beans. Como isso aconteceu?
É, pois é. Basicamente, é algo como uma festa. Eles queriam alguém aqui para quebrar coisas [um par de óculos gigantes] e fazer "selfies". Bom, eu gosto de quebrar coisas e tirar "selfies". [risos]

O Lou Reed [músico e amigo de Iggy Pop, morto em 2013] nunca tirava os óculos escuros. O sr. usa também?
Sim, todos os dias porque vivo em Miami [nos EUA] e sou viciado na luz do dia. Ela faz com que eu me sinta melhor. Minha vida foi dura, Pedro, durante muitos anos [risos].

Eu era muito pobre, doente e olhavam para mim de cima para baixo, riam de mim. Então, hoje eu aproveito para ficar sob os raios de sol, de bom humor, usando meus óculos escuros, chinelos e nenhuma outra roupa.

Editoria de Arte/editoria de arte

No passado, o sr. costumava usar vestidos. Ainda usa?
Curto usá-los na rua, me sinto engraçado. Gosto de tirar fotos usando vestidos. Sou orgulhoso do meu porte.

Qual foi a maior besteira que já fez na vida?
Bom... Provavelmente uma vez em que eu estava tentando dirigir um Le Mans 1965 pela costa de Malibu, em 1977. Estava tão bêbado que não vi o guarda pedindo para parar. Quando o carro morreu no meio da estrada, tentei abrir a porta e caí de lado. Ele estava com tanta raiva que pegou minha licença de motorista, rasgou em pedaços e jogou tudo no chão. Já fiz várias coisas como essa, como vomitar nas pessoas... Fiz coisas terríveis!

Tem vergonha do passado?
Olhando de fora, como se eu olhasse para mim mesmo, dou risada disso.

Por outro lado, durante muitos anos, quando eu viajava para outros lugares, as pessoas chegavam em mim prontas para me bater, dizendo "Você destruiu minha casa", "Você destruiu meu carro", sem que eu me lembrasse de ter feito coisa alguma.

As pessoas consideram o sr. o pai do punk, às vezes esperam que seja louco, use drogas. O que acha dessa expectativa?
Acho que essa ideia já está datada, é uma ideia de muitos anos atrás. Hoje os jovens estão muito mais conservadores, bom, mas é claro que eles vão fazer coisas.

Eu consumi todas as drogas que as pessoas usam atualmente quando elas ainda eram experimentais. Usei ecstasy quando ainda não tinha nome. Consumi crack quando não existia esse nome. Mas eu não acho que todas essas coisas definem um "lifestyle" punk. Tem mais disso na música eletrônica. É realmente perigoso. Eu usei Special K [uma droga anestésica] em 1970, e quase pirei. Essa é realmente perigosa.

Daí tive uma dor de dente e me deram um Vicodin [remédio para dor que se popularizou como droga]. Não gosto dela porque a indústria farmacêutica quer fazer dinheiro. Querem lucrar com as drogas.

É difícil para as pessoas entenderem quando elas exageram. Em minha vida, começou com a maconha. Fumava maconha e haxixe, e abriu um mundo novo para mim. Sexo era muito mais divertido, o mundo natural era lindo, a música soava incrível, eu pensava nas coisas que eram empolgantes.

Pouco a pouco, fui provando LSD, cocaína, heroína. Mas com o passar do tempo senti como se isso fosse crucial para a minha felicidade, para me sentir bem. Isso não é nada bom.

Você destruiu seu corpo durante muitos anos com várias drogas. Como o manteve forte e bem definido?
Eu era um drogado saudável, atlético [risos]. Havia dias em que cheirava cocaína e saía para correr dois quilômetros e meio. Sinceramente, fazia essas coisas por um certo tempo e depois voltava atrás –ia para algum lugar me esconder e só comia, dormia e me recuperava. Fiz isso durante toda a minha vida e finalmente, pouco a pouco, não quis mais fazer essas coisas. Ainda bebo um pouco de vinho, mas faço isso no jantar, então é diferente, você sabe.

Então tem uma vida tranquila.
Vivo uma vida realmente tranquila. Tento fazer tudo o que minha mãe me disse para fazer, como ir para a cama cedo e tentar não ficar correndo em volta dela. Todas essas coisas simples.

O sr. costumava cortar sua própria pele no palco. Por quê? A intenção era chocar?
Não, não tinha nada a ver com chocar. Era uma expressão do meu desconforto e da minha raiva.

Faz isso no palco ainda?
Sempre faço um pequeno corte no corpo quando estou trabalhando. Não é tão ruim como costumava ser. É que sou mesmo um cara estranho.

Qual é sua melhor música?
Oh, Deus. Nesta semana, eu realmente amo "Down On The Street" [do álbum "Fun House", de 1970]. Teria que dizer que minhas favoritas são "I Wanna Be Your Dog" [1969], "Raw Power" [1973], "No Fun" [1969], "Dirt" [1970], "The Passenger" [1977]...

Seria melhor perguntar qual o seu melhor álbum.
Eu, pessoalmente, gosto de "Fun House". Mas, basicamente, acho que tudo o que fiz por volta dos 30 anos é muito bom e interessante. Todos os seis álbuns dessa época são equivalentes na minha mente.

E o que acha do punk produzido atualmente?
Isso depende do que você considera punk. Eu tenho um programa de rádio ["The Iggy Pop Radio Show"] e toco bandas nas quais acredito. Tentam fazer um pop punk hoje em dia, mas acho que algumas conseguem chegar em pontos do melhor que o punk tinha a oferecer musicalmente.

David Bowie teve um grande papel na sua carreira, uma relação de anos. Ainda conversam?
Nós fizemos algumas coisas. Eu realmente não falo com ele há alguns anos. Mas da última vez que nos falamos foi muito legal. Não há problemas entre a gente. A relação hoje é muito mais cuidar das músicas que fizemos juntos, elas estão por todos os lados, sabe.

Mas é possível uma nova parceria?
Certamente é possível, mas ninguém tem planos sobre isso. Ele está fazendo outras coisas.

Em setembro, o Rock in Rio comemora 30 anos. O senhor já disse ter ficado com raiva por não ter sido convidado para a primeira edição, em 1985.
[Interrompendo] É, eu fiquei com raiva a minha vida toda porque esses malucos nunca me convidaram, porra.

Por que não convidaram?
Eu não sei! [risos] Eles convidaram o Freddie Mercury [vocalista do Queen, morto em 1991. A banda voltará ao Rock in Rio com o cantor Adam Lambert nos vocais].

Mas o senhor quer tocar no Rock in Rio?
Sim, sim, eu quero! Por favor, Pedro, ponha eles em contato comigo, por favor. [faz voz doce de criança]

Ok, sr. Pop, pode deixar.
Obrigado, Pedro.

*

NA FASHION WEEK

Iggy Pop deve usar uma bengala para quebrar nesta segunda (13), em uma tenda na entrada SPFW, um óculos gigante cravejado de cristais Swarovski –divulgação da nova coleção Punk Glam, da Chilli Beans. A ação ocorrerá às 19h, entre os desfiles das grifes TNG e PatBo. Caito Maia, dono da Chilli Beans, diz que levou seis meses de negociações para trazer Iggy ao Brasil.


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