Folha de S. Paulo


Depois de vinte anos, dramaturgo Flavio de Souza arrisca de novo

Há 20 anos sem estrear uma nova peça, o dramaturgo paulistano Flavio de Souza, 59, retorna ao palco nesta quinta-feira (9) com a comédia "Vice Versa", no teatro Novelas Curitibanas.

Souza, que mora há três anos em Curitiba, também dirige o texto. Ele é o autor de "Fica Comigo Esta Noite", que projetou a atriz Marisa Orth em 1988 e foi depois montada por Débora Bloch no Rio de Janeiro e por Cristiana Reali em Paris.

Entre dezenas de outras, escreveu ainda "Sexo dos Anjos", que compõe uma trilogia com "Fica Comigo" e a nova peça. Ele pretende montar as três, com o mesmo elenco de hoje, para uma turnê nacional a partir do fim do ano.

Em "Vice Versa", "o mundo vai acabar à meia-noite, uma hecatombe nuclear", e um casal "resolve fazer tudo o que queria e não fez, um monte de loucuras".

Lenise Pinheiro/Folhapress
O autor, diretor e ator Flavio de Souza
O autor, diretor e ator Flavio de Souza

Souza divide a cena com Helena Portela. "Uma atriz, para mim, ideal, que fala as coisas que escrevo do jeito que a Marisa fazia, no 'Fica Comigo', e depois nunca vi mais, tão natural", diz.

Sobre as duas décadas sem estrear peça nova, afirma: "Eu cansei. É muito difícil fazer teatro. Chegou uma hora em que começou a ficar impossível. Todo mundo parece que fala, 'Você não vai conseguir, não vamos deixar'".

Além dos custos e da burocracia, que só cresceram desde então, o dramaturgo cita como motivos para sua ausência durante 20 anos os problemas que enfrentou, no Rio, com a montagem de sua "Répétition" em 1995, sem dar mais detalhes. "Eu desisti."

Flavio de Souza foi roteirista e um dos dois criadores, junto com o diretor Cao Hamburger, do "Castelo Rá-Tim-Bum" (1994), entre outros infantis ("Catavento", "Mundo da Lua"). No programa, ele interpretava o cientista Tíbio.

Questionado, critica a TV Cultura, que produziu uma única temporada do "Castelo" -70 capítulos que retransmite sem parar-, e a TV aberta em geral pelo abandono da programação infantil.

"É uma história triste, na verdade", diz o cocriador. "Naquele ano, mudou o presidente [da Fundação Padre Anchieta, que controla a Cultura] e o novo queria fazer o programa dele. Então deixaram cair o 'Castelo'."

A bem-sucedida exposição sobre o programa em 2014, no Museu da Imagem e do Som em São Paulo, precisou até usar reproduções. "Tinha ido tudo para o lixo", lamenta.

Desde então, "limaram o 'Sítio do Pica-Pau Amarelo' na Globo", entre outros casos de derrocada dos infantis. "No fim, o Silvio Santos é que está fazendo, no SBT", comenta, rindo. "Para 'Carrossel', que é bem-feito, chamaram atores legais."

Quanto à televisão pública, a TV Cultura, "ruim faz tempo, está uma tristeza", e a TV Brasil, onde ele escreve agora roteiros para o programa "Igarapé Mágico", não é melhor. "Você conhece a TV Brasil? Ninguém conhece. E não funciona nada."

Souza é também roteirista de cinema, em filmes de Luiz Villaça e Ivan Cardoso ou populares com Renato Aragão e Xuxa, e responsabiliza os diretores pela persistente baixa qualidade da produção brasileira, se comparada à argentina, por exemplo.

"Você viu [o filme argentino] 'Relatos Selvagens'? Puta roteiro. É que eles contam história. No Brasil, a maioria quer ser o novo Glauber Rocha. Podia, pelo menos, começar contando história."

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A seguir, editada por tópicos, a entrevista feita com Souza num bar do Largo da Ordem, no centro histórico de Curitiba, depois de um ensaio de "Vice Versa".

DE "RÉPÉTITION" A "VICE VERSA"

"Répétition" foi a última peça, em 1900 e alguma coisa. Foi no século passado. Depois a gente fez no Rio, um fracasso absoluto. Tudo o que deu certo em São Paulo, feito assim [às pressas], naquela do Rio, feita com tempo, com dinheiro, puf...

Agora estou fazendo esta peça, que são dois atores, tem a ver com morte, só para variar. [risos] A gente vai fazer uma trilogia, "Fica Comigo Esta Noite", "Sexo dos Anjos", que vou remontar, e esta. "Sexo dos Anjos" dá para ser dois homens, duas mulheres. Em 1900 e alguma coisa, aqui mesmo em Curitiba, fizeram pela primeira vez com um homem e uma mulher e deu super certo.

Em "Vice Versa", o mundo vai acabar à meia-noite. Vai ter uma hecatombe nuclear. Aí um casal resolve fazer tudo o que queria e não fez, um monte de loucuras. Aos poucos você vai entendendo o que está acontecendo. Mas aí chega uma hora em que eles começam a fingir que são outras pessoas. É basicamente isso. No final, parece que vai explodir e acaba não explodindo.

INTERVALO DE 20 ANOS

Eu cansei. É muito difícil fazer teatro. "Fica Comigo" eu produzi com o dinheirinho que tinha, num teatro de segunda e terça, mas ainda dava. Chegou uma hora em que começou a ficar impossível. "Fica Comigo" foi com dinheiro que eu tinha na poupança.

Agora, não faria nada, nem meia-noite de sábado. Uma loucura. Não conseguia pauta no teatro, porque falavam, "Ah, você tem que ter a garantia de que vai ter anúncio". E eu respondia, "Mas como posso ter anúncio se não tenho teatro? Como vou conseguir o dinheiro sem ter o teatro?".

Aí você ia pedir o patrocínio e falavam, "Ah, mas em qual teatro vai ser?". Aí eu falei, "Chega!". Todo mundo parece que diz, "Não, você não vai conseguir. Nós não vamos deixar você estrear". [risos]

SÃO PAULO, NÃO

Estou fazendo três anos em Curitiba, neste mês. Sempre que vinha para o festival de teatro, ficava com pena de voltar para São Paulo. Porque não gosto de São Paulo. Nasci lá, morei tempo demais lá. E agora, quando vou, falo, "Meu Deus do céu, como é possível?".

Tem um barulho permanente, a qualquer hora. Fico num apartamento que é meio perto da Consolação, então tem aquele trânsito, qualquer hora. Parece que não desliga. Aqui tem barulho também, mas chega de madrugada e pára.

Onde eu moro, um bairro meio distante, de dia tem passarinho. Parece outro mundo. É uma cidade que tem muitos parques. O legal é que, quando a cidade cresceu, deu tempo de pegarem uns pedaços e fazerem parques.

O principal que eu faço, ainda agora, é escrever. E escrever dá para escrever em qualquer lugar. Estou fazendo reunião pelo Skype, nem preciso ir para São Paulo, Rio. A gente tinha que ir aos lugares. Lembro que escrevia à máquina, tinha que pegar cópia e ir até o lugar entregar um papel para a pessoa. [risos] A vida ficou muito prática.

TV BRASIL & TV CULTURA

Estou fazendo a segunda temporada de um programinha que se chama "Igarapé Mágico", um infantil da TV Brasil. Você conhece a TV Brasil? [risos] Ninguém conhece. É ridículo, porque você sabe o que é a TV Brasil? Eles pegaram a TVE e falaram, "Agora é TV Brasil". É do governo federal.

Foi uma coisa tão absurda que fizeram. E não funciona nada. Durante o primeiro ano, pegaram emprestado e só passava coisa da TV Cultura. Nossa, [a Cultura] está, assim, uma tristeza, mais que crise. E pior do que já foi, já faz muito tempo que está ruim.

"CASTELO RÁ-TIM-BUM"

A exposição foi tão legal. Iam trazer para cá e talvez levar para o Rio, mas desistiram. E vão leiloar a exposição! Era como um parque temático, a entrada era do tamanho da porta do Castelo. Eles usaram o MIS inteiro.

Tinha aquela escada, que no cenário não chegava a lugar nenhum, se continuasse caía, mas que lá chegava mesmo à casa da Morgana. Para quem assistiu, era que nem a Disneylândia. Você está dentro do cenário daquele programa. E a exposição foi ficando permanente.

As pessoas do bairro quiseram até tirar o MIS de lá por causa da exposição. [risos] E na verdade o MIS só fechou porque tinha contratos internacionais de exposição, que não tinha como cancelar. Era para ter acabado em outubro, passou para novembro, aí conseguiram empurrar para 25 de janeiro e não tinha mais como. Dava para ficar em cartaz um ano, dois, sei lá.

"Castelo" foi uma temporada só. São 70 programas, acaba o último, eles começam a passar o primeiro de novo. [risos] É uma história triste, na verdade. Mudou o presidente [da Fundação Padre Anchieta] e o novo queria fazer o programa dele.

Então deixaram cair o "Castelo". Uma vez fui lá e estava abandonado, tudo caindo. Tanto que a exposição usou pouquíssima coisa de verdade. Era tudo reprodução, porque tinha ido tudo para o lixo. Nunca mais tiveram dinheiro para fazer uma programação infantil.

Faziam um programa, depois outro, mas programação mesmo... Fui um dos dois criadores, eu e o Cao, e um dos roteiristas. Fiz metade dos roteiros do programa mesmo, do corpo, e só um dos quadros, que era o Tíbio e o Perônio. Tem uns quadros que nem sei quem escreveu, de tanta gente que era.

INFANTIS

Não tem mais programa infantil. Na Globo tinha o "Sítio do Pica-Pau Amarelo", que eles limaram. A única coisa que dizem que é para criança é "Malhação", que não é para criança. E na TV paga é tudo programa estrangeiro, americano, algumas coisas europeias. É louco, porque é o público mais cativo. Criança assiste televisão todo dia, adulto, não.

Custa muito caro. As pessoas falam, "Ah, por que não faz mais o 'Castelo Rá-Tim-Bum?'". Porque foram gastos milhões naquela época, fora toda estrutura da Cultura, que estava forte, tinha estúdios, muitos técnicos, muito tudo. Se você fizer um programa desses hoje, nem sei quanto vai custar, uma loucura.

Acho até meio grande demais, aquele programa. Tinha quadro demais, coisa que nem precisava. Não precisava de todo aquele dinheiro para fazer um programa legal. Mas não tem mais, hoje, também porque desenho animado custa muito barato.

Esse é que é o problema. Eles compram barato. Com o que pagariam por um capítulo do "Castelo", compram temporadas de vários desenhos. E as crianças gostam de desenho, então não tem nem muito por quê.

No fim, o Silvio Santos é que está fazendo, só ele. No "Carrossel", que acho que está mais bem feito, eles chamaram atores legais. Por exemplo, a Ilana Kaplan como uma das vilãs, uma professora má. O Henrique Stroeter, que era o Perônio [do "Castelo"], ficou famosíssimo. Ninguém sabe o nome do personagem dele, mas ele é o famoso "pai do Jaime". [risos]

"FICA COMIGO ESTA NOITE"

Antes de "Fica Comigo", já tinha escrito umas 16 peças, mas a maioria está lá, na gaveta. Teve peça no grupo Pod Minoga. Que dirigi, "Fica Comigo" foi a quarta ou quinta. E produzi também, por isso que era uma "super produção". [risos]

Era segunda e terça-feira, num teatro horroroso, os fios todos assim [soltos], uma coisa. Teatro Igreja, que nem existe mais, virou um restaurante na 13 de Maio. Depois a gente fez na frente do Maria Della Costa, num pedacinho que sobrou [do palco].

Estava em cartaz uma peça enorme, e a gente transformou a nossa numa linguiça. Mesmo assim era muito bom. "Fica Comigo" tem a ver com os meus pais, talvez. Eles viviam brigando. Brigaram a vida inteira. Até ela morrer eles estavam brigando. [risos] Na peça, depois que ele morre, eles continuam brigando. Todo ano eu recebo pelo menos cinco pedidos de gente, querendo fazer.

Conheci Helena Portela aqui. É uma atriz, para mim, ideal. Ela fala as coisas que escrevo de um jeito que a Marisa fazia, em "Fica Comigo", e depois nunca mais vi alguém falando, de um jeito tão natural. Fiquei morrendo de vontade de fazer com ela. Eu ia só dirigir "Vice Versa".

Os planos mudam, porque teatro é assim, tem muita briga, e às vezes, até sair o dinheiro, a pessoa já foi fazer outra coisa. A gente começou a ensaiar e falei, "Achei a pessoa para fazer 'Fica Comigo Esta Noite'". Que eu sabia que ia fazer. O morto. [risos]

TEATRO, NÃO

Eu não vou ao teatro. Sou daquelas pessoas horríveis que só vão quando o amigo fala, "Se não for, nunca mais vou falar com você". [risos] Aí vou, meio arrastado. É engraçado. Quando comecei a fazer teatro, ia todo dia. Tinha teatro de terça a domingo, menos segunda. Juro, ia ver uma peça por dia, duas no fim de semana. De 1969 até 1978, assisti tudo o que aconteceu em São Paulo. A gente ia para o Rio ver a tal de uma peça que alguém tinha falado. Aí depois eu acho que cansei. Quando você dirige, fica muito tempo sentado, assistindo. Sei lá, não gosto mais. É claro que tem coisas excepcionais que você vai ver e até esquece que está no teatro. Normalmente, não esqueço, começo a ver que a luz não acendeu, que não sei o que caiu, coisa chata.

NAUM E O POD MINOGA

Naum Alves de Souza é uma influência, com certeza, com certeza. E na verdade o trabalho dele, quando ele começou a escrever sozinho, foi meio diferente. Foi até uma surpresa, para a gente do Pod Minoga. Porque a gente fazia um trabalho mais louco, sempre musical, misturava circo com ópera.

Quando ele estreou a primeira peça, era dramaturgia, uma coisa super seca. A segunda só tinha quatro cadeiras no cenário. A gente até falou, "Mas cadê aquelas coisas todas?". Porque aquela coisa toda que tinha de artes plásticas começou porque era um curso na Faap que era de teatro e de arte. E ele teve a ideia de usar no teatro as coisas que a gente fazia na aula de artes plásticas.

É uma linguagem que ele inventou, de misturar. E quando ele foi fazer... Claro que continuei sendo fã dele, até consegui fazer "A Aurora da Minha Vida" [de Naum] lá no Rio. Viajei o Brasil inteiro, me realizei. Como ator, acabei entrando, que era o que queria ter feito desde São Paulo. Mas o Pod Minoga era muito coletivo. Ele mesmo não se intitulava o diretor do grupo. Era meio que o mentor.

Não tenho nenhuma nostalgia do Pod Minoga. Era uma época meio estranha. A gente ficava meio trancado lá. Era o fim da adolescência. Eu estudei no Equipe, gente no chão fumando maconha. Foi a época mais maluca.

E eu ficava lá naquele galpão dia e noite, na Oscar Freire, fazendo cenário. [risos] Eu sentia falta de sair, ficar com os meus amigos do Equipe, que eram todos loucos. Mas lá era outro tipo de loucura, não deixava de ser, embora em algumas épocas fosse meio neurótico.

Algumas pessoas fechadas, dia e noite, não tem como não ser. Pensei muitas vezes em ir embora sem dizer tchau e nunca mais voltar para aquele lugar. [risos] Mas não me arrependo. Não foi muito tempo, entre sete e oito anos. Aí o Naum começou a escrever as peças dele, depois o [ator] Carlos Moreno viajou. Foi meio que se desfazendo.

MAIS ADULTO

Acho que o que estou escrevendo está mais adulto. Com assuntos mais sérios, talvez. Porque já vivi bastante, fiquei 27 anos casado com a mesma mulher. Tem umas coisas que fazem diferença. Acho que as minhas novas peças são um pouco mais adultas.

Mas sempre com uma mistura, não consigo escrever nada que seja só drama ou só comédia. Sempre tem uma parte triste, pesada, misturada com comédia. Não gosto, inclusive não gosto de assistir, quando não tem nem um pingo de comédia. A vida não é assim.

Escrevo bem intuitivamente. Não penso assim, "Vou escrever uma peça sobre relacionamento e não sei o que lá". Vou escrevendo e depois vejo o que fiz, às vezes puxo mais para um lado, para outro. Sempre reescrevo, sempre.

Nesta, "Vice Versa", estou mexendo até hoje, estava mexendo lá no ensaio, agora, "Não, essa frase vamos fazer assim". Nessas peças, é tudo muito coloquial. Então, quando não encaixa direito na boca, eu mexo.

CINEMA

O que mais tem que reescrever é cinema. No mínimo, você faz 15 versões do mesmo roteiro. Teve um em que fiz 27. E o chato é que, como aconteceu nesse, até a 17ª versão ele fica "melhor, melhor, melhor", depois fica "pior, pior, pior". [risos] E quando você vai assistir o filme dá uma tristeza. É complicado, porque filme é o diretor. O diretor manda, e o roteirista é só um a mais que está ali. Tem a maquiadora, tem o cara que traz a comida e tem o roteirista, que está ali, servindo. [risos] Televisão é mais legal, porque é mais coletiva. Todo mundo manda, todo mundo mexe, mas pelo menos não é aquele gênio, aquela única pessoa. Cinema tem essa coisa, dos gênios, todo mundo é Fellini.

Você viu "Relatos Selvagens"? Não tem nem o que comentar. Puta roteiro. Falei, "Meu Deus do céu!". É que eles ficam contando história. É péssimo falar assim, mas no Brasil a maioria quer ser o novo Glauber Rocha. Quer mudar a história do cinema.

Podia pelo menos começar contando história e depois chegar no "Vamos mudar a história da arte". "Relatos Selvagens" é um monte de histórias maravilhosas, contadas de um jeito maravilhoso. Nada mais simples que aquilo, pessoas brigando, se matando e tal. [risos] O Fellini chamava para escreverem com ele, o Buñuel chamava. Aqui, não: eles todos sabem escrever, sabem dirigir. Às vezes faz falta alguém que pelo menos escreva diálogo.

Mas tem um filme, "O Som ao Redor", que é maravilhoso. Um puta roteiro, uma coisa muito surpreendente. A gente nunca vê Recife no cinema, é sempre no sertão... Adorei. O cara realmente sabe escrever, não precisava de um roteirista do lado dele. [risos]

LITERATURA

No ano passado, eu só estava escrevendo livro. E tem agora um que se chama "Antes e Depois", um livro maior, com umas 200 páginas. É mais para adolescente e para adulto, porque são personagens da história do Brasil que tiveram um dia em que a vida mudou totalmente.

Tem o d. Pedro 2º, que é coroado rei. Tem o Luiz Gama, que foi vendido pelo pai como escravo, uma coisa terrível, e depois ele, sozinho, se formou advogado. Tem a Chiquinha Gonzaga, que quando era criança compôs uma música de Natal, virou compositora. Tem o Mario de Andrade, que era para ser concertista de piano.

Aí o irmão mais novo dele morreu com uma bola na cabeça, jogando futebol, e ele começou a tremer, não conseguia mais tocar e virou escritor. Acabou de sair, faz uns 20 dias, pela Companhia das Letras.

SEPARAÇÃO

Antes, como morava numa casa com várias pessoas, acabava escrevendo só de madrugada, porque era quando sossegava. Quando me separei [da atriz e figurinista Mira Haar], comecei a escrever de dia também. Foi complicado. Na verdade, ainda está sendo.

A gente ainda não se fala, ainda é uma coisa difícil. Eu gostaria, porque tem gente que separa e continua sendo amigo. Depois que me separei, de todos os meus amigos, uns dois continuaram falando comigo... Tenho dois filhos e duas netas. [Tira uma foto das duas da carteira] O pai delas é editor de televisão na Fox. Ele fez curso de direção, uma hora vai acabar dirigindo. O outro está fazendo faculdade de design.

VICE VERSA
QUANDO qui. a dom., às 20h. Até 3/5
ONDE Teatro Novelas Curitibanas, r. Presidente Carlos Cavalcanti, 1.222, Curitiba (PR), tel. (41) 3321-3358
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO 12 anos


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