Folha de S. Paulo


'Mad Men' estreia última temporada em clima de pesar e comoção

O ator Jon Hamm pronuncia suas últimas palavras como Donald Draper, o charmoso e melancólico diretor de uma agência de publicidade dos anos 1960. Olha para as paredes falsas do estúdio e para as duas câmeras que o acompanharam durante quase dez anos.

A escuridão escondia o que, até então, parecia ser mais um dia de filmagens de "Mad Men", série dramática que foi indicada a 105 estatuetas do Emmy, prêmio mais importantes da TV americana.

Divulgação/AMC
Os atores John Slattery (esq.) e Jon Hamm em cena de episódio da 5ª temporada de 'Mad Men
Os atores John Slattery (esq.) e Jon Hamm em cena de episódio da 5ª temporada de 'Mad Men'

Assim que as luzes se acenderam, Hamm se deu conta do que estava acontecendo. "Havia 200 pessoas ali. Olhei ao meu redor e todas estavam emocionadas, aplaudindo ou chorando. Senti-me tão apreciado e entusiasmado", conta o ator, em entrevista à imprensa internacional. "Eu finalmente entendi que 'Mad Men' estava acabando."

Na segunda (6/4), às 21h, a HBO Brasil começa a exibir os sete últimos episódios do seriado –com apenas um dia de atraso em relação aos EUA.

Mas foi naquela gravação, em 3 de julho de 2014, que "Mad Men", sob a direção do roteirista e criador Matthew Weiner, dava o primeiro dos passos finais do que é considerado um dos maiores fenômenos televisivos da década.

Quando a série estreou, em 2007, o canal AMC não possuía programas roteirizados e só exibia filmes antigos. "As pessoas não sabiam nem onde o programa ficava no guia de programação da TV", brinca Hamm. Depois de "Mad Men", que conquistou o Emmy de melhor série dramática por quatro anos seguidos (2008, 2009, 2010 e 2011) e nunca deixou de ser indicado, o canal virou uma potência e deu origem às séries "Breaking Bad" (2008) e "The Walking Dead" (2010), esta último recordista de audiência.

"Ninguém queria fazer a série, essa é a verdade", conta Hamm. "Temos de agradecer à imprensa e aos críticos por terem nos notado", completa.

O criador Weiner, que filmou o episódio piloto de US$ 3 milhões com o diretor Alan Taylor, de "Game of Thrones", afirma que sabia como 'Mad Men' acabaria quando o vendeu. "Não sabia como faria ou como seria executado. Isso só aconteceu há três anos."

Assim que o desfecho da série lhe veio à mente da maneira que o mundo todo irá assistir em maio, Weiner contou para a mulher e, claro, para Jon Hamm. "Ele fez cara de nojo", diverte-se o criador. "Falando sério, ele gostou e acho que os fãs vão gostar. Não é algo que inventei do nada. Há pistas ao longo da série sobre o término."

Michael Yarish/AMC
Elisabeth Moss, que interpreta Peggy Olson no seriado 'Mad Men
Elisabeth Moss, que interpreta Peggy Olson no seriado 'Mad Men'

DIAS NEGROS

A reação do protagonista que virou a cara de "Mad Men", um homem bonitão, mulherengo, melancólico e com sérios problemas de identidade, condiz com seu temperamento brincalhão.

Mas houve dias negros nestas sete temporadas como Donald Draper. "A série tirou algo de mim", afirma o ator, que passou um mês em uma clínica de reabilitação para se livrar da bebida –outro defeito de seu personagem.

"Interpretar alguém tão cheio de emoções requer muita concentração. Trabalhava todos os dias, das seis da manhã às dez da noite. Nos fins de semana, só queria dormir. Mas tudo bem. Pior era não ter emprego e olhar para o telefone que nunca tocava."

Apesar de ter deixado Hamm ciente do destino da série, Matthew Weiner enganou todo o resto do elenco. "Fizemos a última leitura e fiquei espantado por não ter vazado nada com tanta gente envolvida", conta Kevin Rahm, que faz o publicitário Ted. "Então encontrei Elisabeth Moss [que interpreta a personagem Peggy Olson] no Emmy e ela me falou que era tudo falso."

Já John Slattery, dono do papel de Roger Sterling, tinha as próprias teorias ("Achei que todo mundo seria morto"), mas parou de "investigar quando um ator foi demitido após sugerir algo". "Matthew criou algo muito melhor do que eu imaginava. Mas precisamos lembrar que a jornada importa tanto quanto a última cena", completa.

Vincent Kartheiser, o gerente de contas Pete Campbell, foi mais claro. "Certa vez, Weiner falou que Pete nunca ganharia nada. E ele não estava errado", entrega.

LUTO

"Choramos, cantamos músicas e bebemos muito no fim", revela January Jones, a Betty Draper, mulher de Don, sobre o último dia no set.

Nestes nove meses, Jon Hamm explica que já passou pelos cinco estágios do luto e agora está na fase da aceitação. "Tirar o paletó e aquela gosma do cabelo e me sentir normal de novo é o melhor para mim", diverte-se, logo incorporando a pose invulnerável de Draper. "Dizer adeus faz parte da vida."

NA TV

MAD MEN -ESTREIA DA ÚLTIMA TEMPORADA

QUANDO 6/4, às 21h, na HBO Brasil


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