Folha de S. Paulo


Rita Cadillac vibra e buzina em sessão de peça sobre Chacrinha

Chacrinha continua comandando a massa: depois da temporada no Rio que levou 80 mil pessoas ao teatro, o musical biográfico sobre o Velho Guerreiro estreia em São Paulo nesta sexta (27).

A vida de Abelardo Barbosa (1917-1988), o Chacrinha, é contada em forma de cordel e programa de auditório na montagem da produtora Aventura dirigida por Andrucha Waddington, com texto de Pedro Bial e Rodrigo Pereira.

Mesmo com equipe "padrão Globo", o musical não deixa de dar alfinetadas na emissora –e, especialmente, em Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho), o poderoso chefão da rede de TV até 1997.

Em dois atos ("Dois planos-sequência", diz Waddington), a peça começa contando a infância de Abelardo Barbosa em Pernambuco. Na segunda parte, vira quase um programa de auditório –parte da plateia é convidada a subir ao palco e assistir ao espetáculo em arquibancada. O público, transformado em "macacos de auditório", vibra.

"Precisamos de pessoas revolucionárias nesse momento quase fascista de divisão entre o bem e o mal. Por isso 'nêgo' vibra quando descobre quem era o Chacrinha", diz Stepan Nercessian, que vive o apresentador no musical.

A reportagem assistiu a sessão para convidados no Teatro Alfa, na quarta-feira (25), na companhia de Rita Cadillac, 61, ex-chacrete. Considerada a preferida de Chacrinha (ela nega), Rita já tinha visto o espetáculo no Rio, quando diz ter chorado muito.

Desta vez, jurou não chorar, mas não conseguiu. Mas também cantou, dançou e vibrou em trechos como o que mostra o apresentador desafiando a diretora da divisão de censura Solange Maria Teixeira Hernandez e as chacretes invadindo a delegacia para tirar o chefe da prisão.

Leia a seguir o depoimento de Rita sobre a peça.

"Essa peça é parte da minha vida, amo. Gente, o Chacrinha é tudo. É o rei da comunicação, continua atual.

O Stepan [Nercessian, que interpreta Chacrinha adulto] chega a me incomodar, no bom sentido, porque me leva de volta para o passado. Quando ele entra em cena, naquela junção do Abelardo [Barbosa] criança com o Chacrinha, dá para desabar. É uma coisa iluminada.

E o Leozinho [Leo Bahia], tadinho, é um anjo, um menino novo mostrando com um talento incrível um Chacrinha que ninguém conhece.

Eu conhecia em parte, o Chacrinha sempre conversou muito com a gente, contava sua história, sua infância. Mas a gente não conseguia visualizar. Agora você consegue entender aquele menino que fez dele o que ele é.

Adoro essa peça porque volto ao passado, numa boa. Aquela hora em que ele manda o Boni para PQP, adorei. E quando ele manda a "tia" Solange [Maria Teixeira Hernandez, censora] para aquele lugar eu vibrei mais ainda.

Nós [as chacretes] fomos mesmo à delegacia para soltar o Chacrinha, porque ele foi preso por causa de nossa roupa, a censora achava que era cavada demais. E era, sou uma das que "cavavam" mesmo, meu manequim era 42 eu falava que era 38.

No espetáculo, dá para você dançar, cantar, aprender a história da TV, o que ele conseguiu fazer sendo um palhaço. É muito bonito. Quem participou e curtiu, vai voltar a um passado divertido. Por mais que o Chacrinha 'agredisse a sociedade', como dizia o Boni, ele fazia isso para brincar, não era maldade. Ele era um palhaço do bem.

As meninas eram tratadas como filhas. Ele dava identidade às bailarinas. Não era um programa em que você via 20 mulheres e não sabia o nome delas. Em todos os programas. Ele fazia questão de mostrar que a gente não era cenário.

Gostei de terem falado os nomes de mais chacretes nessa versão. Na que vi no Rio era só o meu –também gostei, claro, mas é um pouco chato.

Mas o que mais me emocionou foi ver o Stepan falar, andar. De cueca samba-canção e meias, andando, é o Chacrinha baixando aqui."

CHACRINHA, O MUSICAL

QUANDO estreia sex. (27); qui., às 21h; sex., às 21h30; sáb., às 16h e às 20h; dom., às 19h. Até 26/7

ONDE Teatro Alfa, r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, tel. (11) 5693-4000

QUANTO de R$ 50 a R$ 180

CLASSIFICAÇÃO 12 anos


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