Folha de S. Paulo


Lançado hoje, livro 'Amor ao Teatro' reúne 783 textos de Sábato Magaldi

Aos 23, dando os primeiros passos como crítico no "Diário Carioca", o jovem advogado mineiro Sábato Magaldi, hoje 87, já chamou a atenção de Nelson Rodrigues (1912-80) por seu amor ao teatro.

Iam toda tarde ao bar Vermelhinho, na Cinelândia, para falar de teatro, abrindo um diálogo que prosseguiu por três décadas e não parou nem quando Sábato, contra a vontade do amigo, trocou o Rio por São Paulo em 1953.

O jovem redator escreveu coluna de notícias teatrais e artigos no jornal "O Estado de S. Paulo", mas só voltou à crítica 15 anos depois. Foi quando iniciou, de fato, sua trajetória: no momento em que Décio de Almeida Prado (1917-2000) a abandonava.

Marcelo Justo/Folhapress
O livro 'Amor ao Teatro' de Sábato Magaldi
O livro 'Amor ao Teatro' de Sábato Magaldi

Décio escreveu no "Estado" por 22 anos, até 1968. Sábato pegou o bastão e escreveu por 22 anos no "Jornal da Tarde", de 1966 a 1988. É o período coberto pelas 783 críticas e outros textos de "Amor ao Teatro", a ser lançado nesta terça (24), em São Paulo.

O título da coletânea de 1.224 páginas, organizada por sua mulher, a escritora e editora Edla Van Steen, explica-se por uma característica marcante do crítico, descrito por Edla como cúmplice.

Décio também o descrevia assim. Dizia que nos seus próprios "momentos difíceis, de dúvida e perplexidade", ele, Décio, se apegava à atenção e ao interesse de Sábato, confiando "em sua paixão por tudo quanto se refira ao teatro".

A pesquisadora Maria Thereza Vargas, que foi aluna e coautora de estudos com Sábato, o conheceu logo que ele chegou à cidade. "Era um apaixonado, via todos os espetáculos, amadores, os mais simples. E ajudava, tinha uma generosidade com os que faziam os espetáculos."

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Sábato teve seus momentos menos cúmplices, como fica claro em algumas críticas reeditadas. Em 1970, chamou "As Mãos de Eurídice", de Pedro Bloch, de subliteratura e "quintessência do lugar-comum".

Mais importante: como Décio, Sábato não aceitou com facilidade a maneira como o diretor Zé Celso "manipulou" o texto de Oswald de Andrade, "O Rei da Vela", em 1967, resultando num espetáculo agressivo e "desagradável".

Sábato, que foi professor da Escola de Comunicações e Artes da USP e secretário municipal de Cultura de São Paulo (1975-79) e integra há 20 anos a Academia Brasileira de Letras, não tem Alzheimer, diz Edla, mas está senil –e quase não vai ao teatro.

Hoje seus escritos, como os de Décio, permanecem como parâmetro, mas são alvo de restrições da crítica contemporânea. Foi uma geração que, diante da revolução do diretor, esforçou-se por manter a dramaturgia acima da encenação, do espetáculo.


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