Do alto dos 80 –ou quase lá–, os autores Zuenir Ventura, 83, Luis Fernando Verissimo, 78, e Ziraldo, 82, não sabem escrever sobre a velhice. "Não temos experiência nisso", brinca Verissimo. "A gente não se sente velho."
O resultado desse bloqueio criativo é o musical "Barbaridade", em cartaz no Rio e com temporada paulistana prevista para o segundo semestre.
A convite da produtora, a Aventura Entretenimento, o trio concebeu o argumento. O texto é de Rodrigo Nogueira, de "Rock in Rio - O Musical" e "Chacrinha - O Musical".
"Barbaridade" é todo metalinguístico: conta a história de três escritores (Osmar Prado, 67, Edwin Luisi, 68, e Marcos Oliveira, 62, o Beiçola de "A Grande Família") que são convidados por uma produtora de teatro (Susana Vieira, 72) para escrever um musical sobre a velhice, mas não sabem bem o que contar.
É possível discernir características dos três musos nos personagens –um é mais sério, como Verissimo, outro é mais abusado, como Ziraldo. Mas insistem que não se tratam de caracterizações fiéis.
O número de abertura diz, entre outras coisas, que "ser velhinho é tão bom, passa a mão na mulher que quiser".
Susana parece não ter achado graça nessa visão: "Parece que a única preocupação do homem velho é ficar brocha. Esta peça é feita para eles. Futuramente eu gostaria de fazer um musical sobre a velhice da mulher", disse em entrevista coletiva num rompante de sinceridade.
Em sua estreia em musicais, vive Daniela, a produtora imperiosa que "esconde a idade desde criança" e é viciada em tratamentos estéticos.
"Não tenho nada a ver com essa mulher. Me perdoem se eu cheguei aos 72 anos sem estar caquética!", brinca a atriz, que treinou a voz com um dos diretores musicais, assim como outros atores que não tinham essa experiência.
O repertório é feito para cantar junto. Há desde Anitta até Irving Berlin. "Paciência", de Lenine, é trilha de uma epifania sobre o passar do tempo. Um medley de Frank Sinatra embala um momento romântico entre um casal de velhos amantes, Osmar Prado e Vera Fajardo.
BARBARIDADE
QUANDO de qui. a sáb., às 21h; dom., às 19h; até 14/6
ONDE Teatro Oi Casa Grande, r. Afrânio de Mello Franco, 290, Rio, tel. (21) 2511-0800
QUANTO de R$ 50 a R$ 190
CLASSIFICAÇÃO livre