Folha de S. Paulo


Adaptações de Guimarães Rosa e Jorge Amado chegam aos cinemas

De um lado do ringue, o mineiro Guimarães Rosa, criador de Riobaldo e Diadorim, desbravador de um sertão metafísico e renovador da língua portuguesa. Do outro, faz guarda Jorge Amado, peso pesado da literatura regionalista, pai de Gabriela, Dona Flor, Tieta e de toda uma mística em torno da Bahia.

É nos cinemas que se dará o embate entre os dois gigantes da literatura brasileira. Nesta quinta (19), estrearam "O Duelo", filme inspirado no romance "Os Velhos Marinheiros ou O Capitão-de-Longo-Curso", do escritor baiano, e "Meus Dois Amores", longa baseado no conto "Corpo Fechado", do escritor mineiro.

Em bilheteria, Jorge Amado nocauteia: com quatro filmes lançados nos últimos 20 anos, ele levou 21 vezes mais público que Guimarães Rosa, com três adaptações lançadas no período (veja nesta página).

Para o diretor Luiz Henrique Rios, de "Meus Dois Amores", a televisão tem papel no êxito de Amado. "Todo mundo lembra de Dona Flor e Gabriela por causa das adaptações da TV. Guimarães Rosa não é assim tão acessível", diz.

Marcos Jorge, que dirige "O Duelo", afirma que a diferença tem a ver com os próprios universos literários. "As histórias de Guimarães Rosa são fortemente ligadas à linguagem. Já Jorge Amado criou histórias fortemente visuais."

Para levar às telas sua "história visual", Marcos Jorge entrou numa superprodução orçada em R$ 12 milhões (R$ 4 milhões a menos que "Tropa de Elite 2", por exemplo) e com cerca de 40% das cenas contendo algum efeito especial.

Para o diretor, egresso do cenário independente –rodou "Estômago" (2007)–, o convite para adaptar a obra "casava" com sua ideia do que é fazer cinema: "Jorge Amado fala de coisas complicadas de forma acessível, escreve sobre coisas escabrosas de maneira delicada. É exemplo de como deve ser um filme", afirma.

Na trama de "O Duelo", o ator português Joaquim de Almeida faz o protagonista, suposto marinheiro que chega a uma cidadezinha e conquista os moradores locais com suas histórias mirabolantes.

"Jorge Amado criou os clichês que hoje há sobre a Bahia", diz o diretor paranaense. "É carregado de brasilidade."

O diretor carioca Luiz Henrique Rios também buscava brasilidade para seu primeiro filme. "Queria falar do interior da cultura brasileira, desse lugar do espírito", diz.

Foi num dos contos de "Sagarana", de Guimarães Rosa, que o diretor encontrou isso. Em "Meus Dois Amores", Caio Blat interpreta um vaqueiro safo que se enrasca ao vender uma mula alquebrada a um matador de aluguel, vivido por Alexandre Borges.

"É sobre um cara esperto que deve recorrer ao mágico para vencer a violência", resume Rios, estreante no cinema mas com carreira na direção de novelas e séries da Globo.

Outro conto de "Sagarana" também pode chegar às telas neste semestre. "A Hora e a Vez de Augusto Matraga", de Vinicius Coimbra, foi o principal vencedor do Festival do Rio de 2011 (cinco troféus, incluindo melhor filme pelo júri e pelo público), mas ainda não estreou comercialmente.

"Demorou porque optamos por lançá-lo de maneira independente", diz Beto Gauss, produtor-executivo do filme.

Para levar o conto às telas, ele conta ter desembolsado R$ 400 mil apenas para pagar as herdeiras de Guimarães Rosa pelos direitos de adaptação. "É caro, mas é o que vale."

Editoria de Arte/Folhapress
Editoria de Arte/Folhapress

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