Folha de S. Paulo


Crítica: Produção tem aspecto artificial, mas direção do filme é segura

A carreira do diretor Marcos Jorge é curiosa. Comercial demais para alguns, pessoal demais para outros, é o que mostram seus dois primeiros longas de ficção, os irregulares "Estômago" (2007) e "Corpos Celestes" (2009). Com "O Duelo", finalmente exercita suas capacidades narrativas de maneira satisfatória.

É certo que se serve aqui de uma obra-prima da literatura: "Os Velhos Marinheiros ou O Capitão-de-Longo-Curso", de Jorge Amado. Mas existe o mérito do diretor em reforçar, no relato, a beleza da história bem contada.

Expliquemos: num belo dia, muda-se para a ilha de Periperi, na Bahia, Vasco Moscoso de Aragão (Joaquim de Almeida, ótimo ator português que raramente faz bons filmes). Esse homem é chamado de comandante, porque tem licença de capitão de longo curso e anda de uniforme, incluindo aí o indefectível cachimbo.

Carismático, conquista a todos (ou quase) com suas histórias de amor e aventura nos mares. Até que surge Chico Pacheco (José Wilker, em seu último trabalho no cinema), que desconfia que esse comandante é de araque.

Estamos em terreno semelhante ao de "As Aventuras de Pi", o belo filme de Ang Lee. Se uma história é boa, que importa se não é verídica? É da paixão pelo relato que trata "O Duelo".

Se seu aspecto visual é carregado de artificialismo, bem a gosto das produções comerciais de agora, a direção de Jorge é segura na junção dos diversos tempos e dimensões narrativas, setor em que "Insubordinados", por exemplo, para falarmos de outra estreia brasileira da semana, fracassa retumbantemente.

O DUELO
DIREÇÃO Marcos Jorge
ELENCO Joaquim de Almeida, José Wilker, Patricia Pillar e Cláudia Raia
PRODUÇÃO Brasil, 2015, 14 anos
QUANDO em cartaz
AVALIAÇÃO bom


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