Folha de S. Paulo


Homenageado, Brasil busca diversificar autores em Salão do Livro de Paris

Homenageada do Salão do Livro de Paris um ano e meio após ser saudada na Feira do Livro de Frankfurt, a literatura brasileira que desembarca na França tem ares de "déjà vu". Vinte dos 43 escritores (ou 46,5% do total) que compõem a comitiva atual estiveram na Alemanha em 2013. Entre eles estão Cristovão Tezza, Adriana Lisboa e o colunista da Folha Michel Laub.

O evento, no qual as letras do país são celebradas pela segunda vez (a primeira foi em 1998), recebe visitantes desta sexta (20) a segunda (23).

Adriano Vizoni/Folhapress
Brasil é homenageado no Salão do Livro de Paris
Brasil é homenageado no Salão do Livro de Paris

Os curadores da participação nacional ponderam que a repetição é inevitável. "Ou então teríamos uma lista não representativa da qualidade da nossa literatura", diz a historiadora e editora Guiomar de Grammont, que fez a seleção pelo lado do Brasil.

"Existe no país uma concentração de autores em torno de grandes editoras e um cenário de pouca visibilidade para nomes regionais", completa o professor de português da Sorbonne Leonardo Tonus, responsável pelos convites no lado francês.

Para a escolha de autores do salão parisiense, foram levados em conta critérios como o equilíbrio entre regiões do país e a representação de várias etnias.

Em 2013, um jornal alemão viu racismo no fato de a delegação do Brasil em Frankfurt ter apenas um autor negro, Paulo Lins. Em Paris, haverá cinco –e dois ligados a questões indígenas.

"Não considerei a repercussão de Frankfurt. Tenho enorme simpatia pela representação de minorias. Não houve cota. São nomes que se destacam pela qualidade de seus textos", diz Grammont.

"Também quisemos sair do eixo Rio-SP-MG-RS. Há vários escritores do Norte e do Nordeste", acrescenta Tonus.

Se o time agora é menos sulista e menos branco, o candidato a protagonista segue o mesmo: o mineiro Luiz Ruffato. Escolhido para discursar na abertura de 2013, ele fez barulho ao dizer que o Brasil nasceu sob a égide do genocídio e ergueu sua democracia racial à base de estupros.

Desta vez, em conversa com a Folha, queixou-se de algo mais prosaico, o cachê dos escritores. "Não estão pagando cachê. [...] É um escárnio com o papel do intelectual no Brasil. [Participar da feira] Não é uma honraria que estou recebendo. [...] Me sinto tratado como um cidadão de segunda categoria, como um imbecil que vai trabalhar de graça."

Co-organizadora da representação nacional na França, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) informa, em nota, que "no ato do convite [...], os autores foram informados do não pagamento de cachê" –e que, na homenagem ao país na Alemanha, tampouco houve remuneração.

Ruffato talvez divida as atenções com Paulo Coelho, que, após cancelar sua ida a Frankfurt às vésperas do evento, prometeu aos curadores não "furar" desta vez.

Pode ter se esquecido do que, segundo ele, motivou seu "forfait" um ano e meio atrás: a ausência de uma turma que ele chamou de "nova e excitante", autores best-sellers ligados ao gênero da fantasia, como Eduardo Spohr, Raphael Draccon e André Vianco.

O grupo foi barrado mais uma vez em Paris, mas Coelho, segundo Grammont, "aplaudiu a lista e valorizou o fato de estarmos levando mais representantes da periferia e de diferentes etnias".

Fora da seção dedicada ao Brasil, o Salão do Livro, de perfil bem pop (próximo aos das bienais do livro de Rio e SP) recebe figuras como o best-seller inglês Ken Follett, o americano Michael Cunningham ("As Horas") e os cineastas Roman Polanski e Paul Verhoeven ("Instinto Selvagem"), entre outros.

Colaborou Raquel Cozer, colunista da Folha


Endereço da página: