Folha de S. Paulo


Em Paris, grifes renovam seus clássicos

"Se não tem pão, que comam brioches." A célebre frase atribuída à rainha francesa Maria Antonieta (1755-1793) quando informaram que seu povo tinha fome poderia ter sido colada nas pequenas cafeterias criadas pela grife Chanel no Grand Palais, nesta terça-feira (10), durante a semana de moda de Paris.

A marca distribuiu aos convidados ovos cozidos, croissants e bebidas. A intenção do estilista Karl Lagerfeld era reproduzir cenas do cotidiano da elite francesa que consome a marca para dar continuidade à moda de rua luxuosa na qual a etiqueta vem apostando nos últimos anos.

O "normcore", a tendência baseada em roupas de rua de materiais caros e que dá um novo significado aos looks simples do dia a dia, encontra na Chanel uma de suas maiores entusiastas.

Youssef Boudlal/Reuters
Coleção de Karl Lagerfeld para a Chanel
Coleção de Karl Lagerfeld para a Chanel

A Brasserie Gabrielle, como foi intitulado o desfile –Gabrielle é o primeiro nome da fundadora da marca, a estilista Coco Chanel (1883-1971)–, é frequentada por uma elite que curte os tradicionais "tailleurs" de tweed da grife revistos em materiais tecnológicos.

Há brilho, transparências, alfaiataria, saias com texturas tridimensionais e araras inteiras de peças esportivas, como uma jaqueta matelassada (espécie de autorrelevo) com pequenas bolas pretas aplicadas na costura.

Lagerfeld sabe que há pouco para ser criado na moda, principalmente numa grife sólida como a Chanel. O segredo, para ele, é sempre explorar seus clássicos dentro do contexto estabelecido para cada desfile, a exemplo de uma bolsa em formato de pratos de porcelana desfilada no Grand Palais.

Patrick Kovarik/AFP
Modelo desfila peças da estilista Stella McCartney
Modelo desfila peças da estilista Stella McCartney

PELES FALSAS

Recriar a estética que torna uma marca diferente da outra, única, é a mesma lógica que a inglesa Stella McCartney trouxe de volta em seu desfile, realizado na segunda (9).

Ao fechar os salões da Ópera de Paris para sua coleção de inverno 2016, a estilista evoca, sem firulas, os códigos que a tornaram importante no círculo da moda. A alfaiataria relaxada em silhuetas soltas do corpo, as linhas retas e a negação do uso da pele.

Uma das poucas estilistas a usar peles falsas nesta temporada, Stella mostrou um repertório singular de texturas feitas de lã ecologicamente responsável e casacos amplos forrados de pelos sintéticos similares aos verdadeiros.

Na mistura de masculino e feminino, em voga nas passarelas de Paris, a estilista e ativista joga com proporções amplas nas mangas e nas barras das calças, mostra um ombro para esconder o outro e, paulatinamente, produz um bem orquestrado "relaxo chique".

Clássico, quase tradicional, mas apresentado de tal jeito que, na vitrine, soará novo.


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