Folha de S. Paulo


Famoso pelas adaptações de HQs, Mark Millar lança filme sobre espião

Stan Lee, criador de personagens como Homem-Aranha, Homem de Ferro e Hulk, sempre será reverenciado como o gênio que deu o pontapé inicial na editora Marvel.

Mas foi um roteirista escocês, desconhecido fora do círculo de leitores de gibis, que se tornou um dos responsáveis por fazer da Marvel a potência cinematográfica que já rendeu mais de US$ 7 bilhões (R$ 21 bi) nas bilheterias.

Mark Millar, 45, casado e pai de duas meninas de 3 e 6 anos, católico fervoroso e apaixonado por Glasgow, criou nos gibis que escreveu no início dos anos 2000 o que viraria a "bíblia" do universo Marvel cinematográfico.

Divulgação
O ator Colin Firth e seu guarda-roupas de espião no filme 'Kingsman
O ator Colin Firth e seu guarda-roupas de espiao no filme 'Kingsman'

O visual realista militarizado do Capitão América? Invenção dele no gibi "Os Supremos" (2002). Samuel L. Jackson como Nick Fury, o chefão da Shield? Culpa dele e do desenhista Bryan Hitch.

"Me vejo mais como o tio bêbado e alcoólatra do universo Marvel", diverte-se o bem-humorado escocês quando a reportagem da Folha pergunta sobre o apelido "O Padrinho da Marvel" que recebeu após sucesso dos heróis atualizados por ele –tanto que recebeu agradecimentos especiais nos créditos de "Os Vingadores" (2012).

"No início, fiquei lisonjeado ao ver minhas ideias nos cinemas. Mas lembrei que Stan Lee me falou: 'Você deveria criar os próprios personagens para poder lucrar mais'. Foi quando decidi começar meu sonho de ter 25 franquias no cinema."

Pode parecer maluquice ou autopromoção, mas o fato é que o roteirista já viu duas de suas criações, "O Procurado" (2008) e "Kick-Ass" (2010), virarem filmes de sucesso. A terceira estreia nesta quinta (5) no Brasil com o nome de "Kingsman: Serviço Secreto".

O longa segue os padrões aloprados dos gibis autorais de Millar: Eggsy (Taron Egerton), um jovem pobre de Londres, é recrutado por um espião estiloso (Colin Firth) para entrar para uma organização secreta e enfrentar um vilão de língua presa e ambições globais (Samuel L. Jackson).

"A ideia veio quando conversei com Matthew [Vaughn, diretor do filme] sobre nosso ódio por filmes de espionagem modernos", revela Millar. "Não odeio o James Bond de Daniel Craig como odeio coisas como 'Bourne'. Não há nada memorável nesses filmes."

"Quando eu era criança, espiões significavam lugares exóticos, mulheres lindas, bugigangas e piadas depois da morte dos vilões. Queria trazer isso de volta."

O público parece que concorda com Millar. "Kingsman" já rendeu mais de US$ 200 milhões mesmo competindo contra o fenômeno "Cinquenta Tons de Cinza".

A Fox contratou Millar para supervisionar todas as suas adaptações de HQs e comprou os direitos de "Superior", sobre um menino com esclerose múltipla que vira um super-herói, e de "Starlight", sobre um velho aventureiro espacial esquecido.

"Fui para Hollywood porque quero que minhas filhas não precisem ter um trabalho de verdade na vida, apenas se divertir e virar celebridades", brinca Millar às gargalhadas.

Mas ele garante que não ganha a mais com o uso de suas ideias no cinema, nem com "Guerra Civil", que servirá de base para "Capitão América 3: Guerra Civil", previsto para 2016. "Não ganho nada diretamente, mas estou feliz", conta. "O filme vai fazer minha minissérie vender mais."

Apesar disso, Mark Millar garante que não escreve pensando no cinema. "Meu estilo é cinematográfico, mas sei que estou fazendo quadrinhos", diz. "Se o gibi for uma porcaria, não adianta nada. 'Kick-Ass' é sobre crianças que matam pessoas. Quem imaginaria que uma ideia maluca dessas viraria filme?"


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