Folha de S. Paulo


Otimista para padrão nórdico, obra vai além de conflito interior

Em "Força Maior", uma família especialmente feliz passa férias nos Alpes franceses, quando, durante uma refeição no terraço do hotel, percebe-se uma avalanche.

Tomas (Johannes Kuhnke), o marido, que demonstra completa confiança no hotel, diz algo como "calma, eles têm tudo sob controle". No entanto, quando a montanha de neve se aproxima do local e se torna cada vez mais ameaçadora, ele foge e deixa a mulher e os filhos desprotegidos. A situação se acalma logo em seguida e todos sobrevivem. No entanto, algo se rompe.

Está aí desenhada, desde então, a "Força Maior" a que diz respeito o título: é a da natureza. Em contraponto, existe uma força que se pode chamar de, digamos, frágil: a do homem. Ela é representada, no caso, pelo instinto de sobrevivência que move Tomas em sua fuga.

Esse ato instintivo opõe-se, no entanto, à ética também humana: a um homem cabe proteger sua família. Embora não o reconheça (não de imediato), Ebba (Lisa Loven Kongsli), sua mulher, se dá conta imediatamente do que existe de insuportável no gesto do marido.

Divulgação
Cena do filme sueco 'Força Maior'
Cena do filme sueco 'Força Maior'

Daí deriva o estranhamento que se segue: como se Ebba descobrisse, subitamente, que o marido é um desconhecido. Ele mesmo, submerso no próprio trauma, também parece saber, cada vez menos, quem é.

A partir daí, um terceiro termo quase obrigatório no cinema nórdico passa a pesar de maneira ostensiva no filme do sueco Ruben Östlund. Algo que se poderia chamar de resgate: a possibilidade de um homem, tendo cometido grave falta, reabilitar-se ou não.

Entramos de cabeça no protestantismo nórdico, nesse corpo a corpo do humano com algo maior que ele. Pode-se pensar em Deus ou na natureza: é quase indiferente, no caso. Mas é com algo dessa extensão que Tomas, na condição de decaído, precisará se entender.

Cineasta otimista para os padrões nórdicos (se se compara ao dinamarquês Von Trier, por exemplo), Östlund propõe em "Força Maior" não apenas o conflito íntimo do homem que sucumbiu a um impulso inconsciente (e incontrolável) como algo como uma saga daquilo que os americanos chamam de "segunda chance".

Se chegará lá ou não é outra história: ao menos a oportunidade de enfrentar seus próprios fantasmas ele terá.

FORÇA MAIOR
(Turist)
DIREÇÃO Ruben Östlund
PRODUÇÃO Suécia/ França/ Noruega
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO bom


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