Folha de S. Paulo


Sobriedade é destaque nas passarelas parisienses

"Isso é uma festa? Não é um momento muito festivo." Na entrada do Hotel De Ville, onde ocorreu na quarta (4) o desfile do estilista belga Dries van Noten, um grupo de quatro mulheres questionava o motivo da aglomeração de pessoas, algo fora do padrão numa Paris estranhamente sem vida para uma semana de moda –que começou na terça (3).

Adesivos com a inscrição "Charlie Hebdo" ainda estão nas vitrines dos supermercados, das lojas de roupas e até de academias, lembrando aos turistas e àqueles de passagem na cidade o atentado ocorrido há quase dois meses ao jornal satírico.

A passarela de Van Noten foi uma das poucas a se desprender do clima soturno que domina a temporada de moda, com coleções pouco inspiradas nas quais o preto se confirma como o novo preto.

Etienne Laurent/Efe
Desfile da grife Guy Laroche, com criação de Adam Andrascik
Desfile da grife Guy Laroche, com criação de Adam Andrascik

Enquanto Van Noten promoveu um baile de luxo com luvas e roupas com estampas de tapeçaria, o belga Anthony Vaccarello seguiu, na terça-feira (3), a corrente escurecida desta temporada.

Numa festa de pretos adornados com estrelas, por vezes estampadas nas roupas com tinta escorrendo, como se sangrando, uma das maiores revelações da passarela parisiense produziu vestidos assimétricos e justos –uma de suas marcas registradas– numa ode à sensualidade.

Ainda que seja perceptível o frescor jovem e sexy que o tornou famoso e o fez diretor criativo da Versus Versace, segunda marca da grife italiana Versace, Vaccarello celebra traços da cultura americana, com referências ao faroeste.

Metais cromados, estrelas da bandeira americana e o veludo marrom comuns à estética do Velho Oeste evocam um clima de aparente desordem, quase anárquica.

Chique e dentro dessa lógica de preto com detalhes metalizados também foi a coleção do inglês Adam Andrascik para a grife Guy Laroche.

Num arroubo fetichista, o estilista mesclou couros e fendas distribuídas em saias e vestidos. As roupas com nervuras aplicadas em blusas transparentes contrastavam com os casacos pesados do primeiro bloco.

O espírito festeiro, mesmo que revisto em poucas cores e um tanto distante da doçura dos tons pastéis das temporadas passadas, está ali.

Paris pode não estar para festa, mas os estilistas de sua semana de moda, a mais importante do circuito internacional de desfiles, sim.


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