Folha de S. Paulo


Análise: Prédios de Artigas são laboratórios de sociedade mais pública

A arquitetura de João Batista Vilanova Artigas é orientada para a dimensão urbana. Mesmo quando projetava casas, sedes de clubes, escolas ou até colônias de férias, estava construindo espaços urbanos, pensados para a interação coletiva.

Seus prédios são, quase sempre, laboratórios de uma sociabilidade nova, mais pública e menos doméstica, mais compartilhada e menos secreta.

Sua visão da arquitetura é marcada, essencialmente, pela noção de conflito. Conflito que aparece tanto na materialidade exposta da construção quanto na dialética entre leveza e peso que sua obra invoca.

Isto é, por um lado, no uso do concreto aparente que revela as marcas das fôrmas de madeira usadas para moldar o edifício, evitando a sua fetichização, e, por outro, na criação de estruturas de grande porte que parecem pressionar o solo, mas se afinam ao tocá-lo, quase desfazendo-se.

Artigas gostava de inserir os edifícios na paisagem com atenção e respeito pelo modo como eles sentam no chão, exprimindo, em suas palavras, uma dialética entre o fazer e a dificuldade de realizar.

CÉU E TERRA

Vemos muito bem, aqui, o ímpeto agonístico de sua obra, bem como de sua visão de mundo. Pois para Artigas a noção materialista de conflito é sempre determinante, mesmo quando mobiliza entidades cosmológicas como o céu e a terra, isto é, o imperativo telúrico, por um lado, e a promessa de transcendência, por outro.

Em uma bela síntese da sua própria poética como algo construído pelo jogo de antagonismos, o arquiteto assim a define de modo primoroso.

"Procuro o valor da força da gravidade, não pelos processos de fazer coisas fininhas, uma atrás das outras, de modo que o leve seja leve por ser leve. O que me encanta é usar formas pesadas e chegar perto da terra e, dialeticamente, negá-las."


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