Folha de S. Paulo


Com 16 mil músicas no Spotify, músico descobriu como se dar bem na internet

A conta de artistas do porte de Beyoncé fica US$ 6 milhões mais gorda por ano graças aos dividendos pagos pelo Spotify, serviço on-line de reprodução de músicas sob demanda –algo como a versão fonográfica da Netflix – criado em 2008, na Suécia.

Mais modestos são os ganhos do americano Matt Farley, 36, com o aplicativo: ao menos US$ 25 mil anuais.

Empregado regularmente em um grupo de assistência social para adolescentes, ele descobriu como ganhar dinheiro com música na internet. Ao menos, no Spotify.

Reprodução
O compositor independente americano Matt Farley, no estúdio em sua casa
O compositor independente americano Matt Farley, no estúdio em sua casa

O segredo? Entulhar o acervo desse dispositivo com músicas sobre, literalmente, qualquer coisa.

O sistema de pagamento de direitos autorais no aplicativo depende da porcentagem de reproduções que um artista obtém no total de streamings do Spotify.

Se Farley (apesar da fatia muito pequena que abocanha dos lucros da ferramenta) não pode competir com Beyoncé em termos de popularidade, ele entra na briga com um repertório ridiculamente grande. São quase 16 mil músicas, uma "discografia" que cresce a um ritmo de 20 novas criações por dia.

"Quero fazer músicas de assuntos sobre os quais ninguém ainda compôs", diz ele à Folha, por telefone. Os temas vão de cocô (dois minutos de repetição da palavra) à morte de um peixinho dourado, passando por celebridades (seu mote favorito) e bolos de casamento.

O que levaria alguém a dar play em uma de suas músicas? Entre tantos motivos, o acaso.

Por exemplo, se um dos mais de 50 milhões de usuários do Spotify digitar "Justin Bieber" na ferramenta de busca esperando ouvir o hit "Baby" e, sem querer, clicar em "Ladies Love Justin Bieber" (as garotas amam Justin Bieber, em português), de Farley.

Farley, que atende artisticamente pelo codinome Motern Media, conta que o lucro é apenas uma consequência não planejada de algo que encara como um hobby. "Quero só me divertir, não estou tentando mudar o mundo ou algo do tipo", afirma. "Estaria fazendo isso de qualquer jeito, mesmo que não desse dinheiro."

CREME DENTAL

O jeito com que sua criatividade trabalha ("quanto mais você faz, melhor você fica") atualmente envolve um teclado, um microfone e um gravador, instalados num cômodo da casa em que vive, no subúrbio de Massachusetts.

"Aperto 'gravar' e vou inventando as palavras. Às vezes leva cinco minutos, às vezes uma hora, se tenho que colocar backing vocals", diz Farley.

Duvidando de sua rapidez, a reportagem pediu que ele inventasse uma música dedicada a ela. O compositor pediu três informações básicas e emendou os versos, na toada do jingle de uma peça publicitária de cereal infantil: "Deixe-me te contar sobre a Gabriela/ela tem 23 anos/ela é jornalista".

Farley também cria músicas sob encomenda: basta comprar dois de seus álbuns pelo iTunes. "São geralmente canções de aniversário, mas no verão passado me pediram para escrever uma canção para um amigo que havia acabado de se recuperar de um estado de coma."

As próximas canções, diz, serão sobre produtos de limpeza e higiene pessoal. "Músicas sobre creme dental, como limpar a janela... São coisas que você não ouve muito por aí."

Editoria de Arte/Folhapress

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