Folha de S. Paulo


Argentinos disputam prêmio por 'Birdman' no Oscar

"Também poderíamos ter ganho a última Copa do Mundo, estávamos a um passo. Agora é esperar", diz o argentino Armando Bo, tratando de diminuir as expectativas em torno de sua terra natal na premiação do Oscar.

É que a Argentina poderá levar três estatuetas para casa neste domingo (22). Além da disputa na categoria filme estrangeiro com "Relatos Selvagens", o país conta com os roteiristas Nicolás Giacobone e Armando Bo na briga pelo prêmio de roteiro original.

Os primos argentinos são coroteiristas de "Birdman (ou A Inesperada Virtude da Ignorância)" junto com o americano Alexander Dinelaris e o diretor do longa, o mexicano Alejandro González Iñárritu.

Divulgação
Michael Keaton em 'Birdman'
Michael Keaton em 'Birdman'

"Estamos orgulhosos do filme e acreditamos ter feito algo especial e novo, mas não esperávamos a reação [positiva] do público nem as indicações [ao Oscar, Globo de Ouro, Bafta etc.]", diz Giacobone. Ele e Bo falaram com a Folha dos EUA, onde vivem.

Os dois são netos de Armando Bo (1914-1981), importante ator, produtor e diretor, realizador de famosas comédias eróticas (espécie de pornochanchadas mais leves).

"Quando nosso avô morreu, éramos crianças, então não convivemos para poder ter alguma influência de seu processo criativo. Mas herdamos a coragem para tocar os projetos", conta Giacobone. Esta é a segunda vez em que ele e Bo trabalham com Iñárritu. Antes, escreveram juntos o argumento de "Biutiful" (2010).

O trabalho em "Birdman", cujo roteiro levou quase dois anos para ficar pronto, foi mais complicado do que na obra anterior, dizem os argentinos, porque partiu de uma imagem concebida pelo diretor, e não de uma história.

"Alejandro nos chamou e disse que queria fazer uma comédia em plano-sequência [sem cortes], que é quase uma contradição. E falou que só tinha uma imagem: um homem de cueca levitando", conta Giacobone. "Foi um processo de descobrir a história que iríamos contar. E fomos fracassando e a encontrando", lembra Bo.

Quando finalmente surgiu a história de Riggan Thomson (Michael Keaton), um ator que se recusa a continuar estrelando uma franquia de super-herói e procura se reinventar na Broadway, a dificuldade passou a ser o retrato de um universo pessoal para todos.

"Porque tem a ver com o artista e a luta com seu ego e essa sensação de que em um momento controlamos tudo e somos capazes de fazer algo importante e no outro nos sentimos os seres mais ínfimos e menos importantes do mundo", diz Giacobone.

AMIGO DO MESSI

Segundo ele, a ideia do longa era "festejar de um lugar cômico" a loucura do trabalho da indústria que os move, e não fazer uma crítica a Hollywood. "Não rimos de Hollywood, mas do artista em suas diferentes facetas: o que triunfa em Hollywood e na Broadway e o que não triunfa nunca", completa.

Bo conta que conheceu Iñárritu quando dirigiu alguns comerciais para a produtora do diretor, no México.

"Tínhamos uma relação profissional. Quando fui filmar meu longa, 'O Último Elvis' [2012], que escrevi com Nico, enviei para ele ler. Ele gostou, e a partir daí ficamos amigos e começamos a fazer projetos juntos." Trabalhar ao lado do mexicano, ele compara, é como "jogar no Barcelona".

A parceria da família Bo com Iñarritú continua. Eles estão desenvolvendo junto com o diretor o roteiro da série de TV "The One Percent", estrelada por Hilary Swank.


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